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A criatura cravou suas garras na terra. O solo convulsionou sob o pés de Mikael, uma teia de aranha de rachaduras irrompendo como um grito na superfície verde. Ele saltou para trás diante de um impulso doentio, que arrancou uma placa colossal de solo – uma massa de rocha e sujeira que ofuscava sua própria forma imensa. 

O Mephisto o lançou sobre Mikael. O próprio ar crepitava com a energia deslocada, o cheiro de terra recém-transformada era dominado por uma devastação iminente. 

“Sem chance.”

Estendeu a mão com a palma aberta em direção à imensa massa que se aproximava, ativando sua técnica:

「 Fusão Vibracional 」

Em resposta ao projétil de terra que se aproximava, Mikael lançou um contra-ataque. Com um movimento único e prático, ele canalizou uma confluência de energias opostas. Normalmente, essas forças se repeliriam ou se atrairiam violentamente com base na polaridade, mas Mikael as manteve em um equilíbrio precário — atração e repulsão, energia positiva contra a negativa.

Um campo invisível pulsava de sua palma estendida, o epicentro dessa interação conflituosa. Nesse ponto, a repulsão e a atração se chocavam. À medida que a distância entre Mikael e a massa de terra aumentava, a força de atração dominava, atraindo o projétil para um ponto de encontro. Porém, a potência desse cabo de guerra se intensificou com a grande massa de seu alvo. 

A precária harmonia entre as energias opostas de Mikael mudou. A força de repulsão, um surto de energia negativa, conquistou o domínio da energia positiva que puxava, empurrando-a para trás. Essa pressão crescente atingiu um ponto de inflexão, onde a repulsão e a atração se mantiveram em um equilíbrio perfeito e instável. Em essência, Mikael havia  deixado-a paralisada no ar. 

Mikael avançou, diminuindo a distância com uma explosão de velocidade. Seu punho, um borrão de movimento, bateu na carne do braço do Mephisto, que defendia-se desesperadamente. 

Enquanto o mantinha desatento, utilizando a outra mão, com um ajuste final e preciso no fluxo de energia, ele manipulou não apenas a direção do projétil de terra, mas o próprio ponto de impacto, trazendo-o sobre o Mephisto. 

Antes que caísse sobre si, Mikael trocou de lugar com uma mesa sob o efeito da técnica Permuta Celestial. Uma erupção devastadora de poeira e detritos irrompeu, envolvendo momentaneamente o campo de batalha em uma nuvem sufocante.

— Urf… 

Mikael, ofegante e exausto, recuou alguns passos. 

— Chefe, você acha que eu sou forte?

A quietude imposta era suficientemente agonizante, um intervalo pontuado apenas pelo som irregular de sua própria respiração, enquanto antigas lembranças da conversa com o líder eram revividas.

— Que pergunta é essa? Sempre vi você como alguém confiante e seguro. Claro que é, Mikael. Você é um dos mais fortes que já tivemos por aqui.

As veias pulsavam em seus braços. O suor escorria de sua testa, mesclando-se com a poeira que cobria seu corpo. 

— Então… é isso.

A técnica de Mikael tinha uma vantagem dupla. Embora o aproveitamento de energias negativas e positivas lhe proporcionasse um poder incrível, a tensão mental era excruciante, pois a energia negativa por si só exigia concentração, mas incorporar sua contraparte, a energia positiva, era uma caminhada na corda bamba mental. 

O esforço era como fazer malabarismo com duas forças opostas em sua mente, deixando-o completamente exausto no final. A consequência era sempre a mesma: fadiga que ameaçava deixá-lo incapacitado. 

— Considerando o estrago anterior, parece improvável que ele consiga se recuperar sem antes lidar com uma lesão adicional tão séria, então posso estar testemunhando o fim da linha.

Ele permaneceu imóvel, aguardando qualquer sinal do Mephisto. A pressão que antes dominava a cena parece que o fez ceder quando desabou juntamente com os destroços do restaurante.

Desde então, a criatura não demonstrou qualquer sinal de vida. Isso significava uma vitória e um confronto relativamente curto, porém estressante, para ele. 

Mikael exibiu um sorriso convencido, dando as costas ao perdedor e caminhando em direção à saída.

— Bem, não dá para os mais fracos competirem, não é mesmo? — Soltou uma risada. — Honestamente, você foi uma boa distração!

Mikael estava profundamente enraizado na dicotomia de seu próprio poder, carregando tanto o peso da arrogância quanto o calor do interesse próprio em seu coração. Para ele, era uma equação simples: o controle determinava todas as facetas de sua vida, e poder era o mesmo que controle. Seus olhos transmitiam sua forte crença de que o poder era a natureza fundamental da vida, e não apenas uma ferramenta útil. 

Aceitando o egoísmo de sua força, ele achava que o poder dava o direito de controlar o próprio destino e o destino dos outros.

A pergunta dirigida ao líder: “Eu sou o mais forte?”, não era uma tentativa sincera de obter aprovação, mas mais como uma forma de confirmar sutilmente o que ele já sabia. Qualquer resposta afirmativa não apenas acariciava seu ego, mas também confirmava sua crença de que a força era mais do que apenas proeza física. Era uma tentativa de exercer controle sobre o caos que cercava sua vida. No entanto, este sucesso dependia de um cuidadoso planeamento e, sem ele, a derrota estaria praticamente garantida.

— Hm?

O Mephisto não ia cair sem terminar o que lhe foi pedido. 

A terra que ameaçava engoli-lo tornou-se um túmulo inclemente, mas a criatura se contorceu com uma força monstruosa. Lentamente, agonizante e incrivelmente, aquele pedaço de terra ergueu, revelando um monstro surrado, forjado a partir de um pesadelo. 

Sua forma escamada era uma tela de ferimentos graves, cortes profundos que vazavam um ichor escuro que refletia sua forma sombria. Cada músculo exposto se esforçava. Com um último impulso, que pôs de lado aquela massa, o Mephisto se libertou, um monstruoso testemunho de sua vontade. 

Permaneceu ali, um monumento vivo à sua recusa em ceder, uma demonstração aterrorizante de resistência bruta. 

— Não tem jeito mesmo.

Portanto, seu ponto de vista trazia consigo o peso de uma solidão auto imposta, embora lhe oferecesse uma breve sensação de poder.

Como Mikael se fechava em seu próprio castelo, onde as sutilezas da fragilidade humana eram ocultadas por uma armadura de autoconfiança, ele acreditava que a força era o determinante final. Cada triunfo era como mais uma pedra nessa fortaleza, fortalecendo as paredes que o separavam de uma compreensão mais profunda e de um relacionamento genuíno com outras criaturas.

Frequentemente, ele percebia que o controle que desejava tão desesperadamente lhe escapava, escorregando por entre seus dedos como areia. 

Sem dúvida, a altivez que ele projetava era uma fachada para as fraquezas de sua autoconfiança e para os momentos em que ele tentava submergir em sua própria força.

Mikael estava ciente do impacto emocional que sua busca por sempre superar a si e aos outros havia causado. Seu senso de controle sobre outras pessoas e sobre seu próprio destino se transformou em uma gaiola que o mantinha sozinho em um pedestal. 

Geralmente, o poder que ele aceitava como sua bússola o deixava vulnerável a uma maldição insondável.

— É… — Suspirou. — Queria terminar isso rápido, tem gente me esperando lá fora.

Seria esse um problema para si? 

A resistência do Mephisto era um desafio intransponível para Mikael, não um problema. A tensão no ar aguçou seus sentidos para o conflito iminente e fortaleceu sua determinação.

— Bem, durante um bom tempo, eu jurei que ser forte bastava. Controle, poder, força… parecia ser tudo que importava.

Uma luminescência avermelhada emergiu dos olhos de Mikael, lançando um tom carmesim que pairava no ar como a promessa de uma tempestade iminente.

— Só que a fraqueza é um luxo que não posso me dar. Ser forte não é apenas uma escolha, é uma necessidade. A conformidade é um convite à derrota e você, assim como eu, se recusa a ser derrotado. 

A dualidade do poder foi exposta como um fardo, um fio fino que ligava a sensação de controle total a um lugar ermo e miserável.

— Veja, a força não é apenas um meio para atingir um fim. Ela é o fim em si mesma. O controle que exerço sobre minha própria vida é a própria essência da minha existência.

Ao dizer essas palavras ousadas ao Mephisto, Mikael estava a ponto de se exaltar, quase no limite da insanidade. Seus olhos brilhavam intensamente, refletindo a intensidade do poder que ele sentia ser seu por direito.

— Que droga…

A palma da sua mão estava tapando seus olhos. Sua respiração ficou pesada, como se a intensidade do momento estivesse se infiltrando em cada fibra de seu ser. Apesar de sua aparente confiança, Mikael sentiu uma corrente de inquietação percorrendo seu corpo. A linha tênue entre o controle e a loucura estava sendo testada e ele mal conseguia conter a torrente de emoções que o estava empurrando para além dos limites da razão.

— Será que realmente importa? — sussurrou para si mesmo, sua voz carregada de incerteza.

Ele podia sentir a sonoridade discordante da energia negativa reverberando em sua consciência, um zumbido constante que pulsava em suas veias.

Afastou a mão que cobria seus olhos, expondo um olhar agudo que irradiava uma tonalidade estranha. Tinha uma cor semelhante ao vermelho-sangue, mas também tinha uma energia esquisita, como se o próprio fluido vital estivesse ganhando vida. 

— Esse é um presente que a minha mãe me deu.

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