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O horário de almoço, com certeza, era o momento mais agitado do colégio. Isso se devia ao fato dos estudantes desfrutarem de uma liberdade que não tinham em momentos de aula. 

Alunos transitando com bandejas de almoços comprados na cantina da escola ou simples embalagens eram, provavelmente, a coisa mais comum de se ver naquele ambiente. 

Ao se reunirem no telhado da escola, onde não havia muitos alunos já que eles preferiam o pátio externo, Hana evitou ao máximo demonstrar sua decepção consigo mesma por não ter conseguido pensar em nada melhor que um sequestro. 

Mayck a provocou quanto a isso, perguntando o que havia acontecido com a persistência dela em não cometer aquele ato repulsivo, mas ele parou depois de receber um beliscão da garota; um que dizia para ele se pôr em seu lugar. 

“Mas já que é assim, vamos em frente com aquela ideia. É a mais simples e fácil”, Mayck falou enquanto acariciava sua coxa direita para amenizar a dor. 

“Talvez, mas… espera. Você acabou de dizer ‘a mais simples e fácil’. Isso quer dizer que você tem outras opções?”

Mayck trancou seus lábios. Havia esquecido a perspicácia de Hana e acabou deixando esse fato implícito. 

Mas ela estava certa, existiam sim outras opções, mas ele considerou-as um desperdício de tempo, então evitou falar sobre elas. Na realidade, ele julgou que seria perda de tempo gastar tanto de seu tempo com Keiko e seu grupo. 

Ainda mais porque havia outra coisa que o preocupava e isso era a situação na sua família. Desde o seu último encontro com Keiko, ele não obteve mais nenhuma informação acerca deles. 

A única forma que tinha de conseguir informações de forma sigilosa era através de Haruna, mas estranhamente ele não a encontrou nenhuma vez naquela semana e tinha receio de procurá-la. 

“E então, vai me contar ou não?” Hana insistiu no assunto. Sua expressão era séria como sempre. 

“Não quero… elas são muito extremas. O sequestro é a forma mais leve…”

“Tá falando sério?”

“Sim.”

Um dos planos consistia em matar as garotas, mas isso definitivamente não seria algo que Hana gostaria de ouvir. 

“Não tem nenhum que fique apenas um patamar abaixo de sequestro…?” Mas ela ainda tinha esperança. 

“… Não…”

“Não tem mesmo?” Hana aproximou seu rosto dele. Seus olhos vermelhos brilhantes o pressionaram, querendo espremer a resposta dele. 

Mayck a encarou em silêncio, com o cenho franzido recuando seu corpo um pouco para trás. Como estavam sentados, se ela chegasse mais perto cairia por cima dele. 

Como eu posso falar pra ela… ela provavelmente não vai gostar. 

Havia uma solução bem eficiente, mas, como Mayck disse antes, precisava de muito tempo. Além disso, havia uma pequena consequência. 

Mas diante daqueles olhos cheios de expectativas e as palavras dela que diziam para ele não guardar segredo… ele acabou cedendo. 

“Tá, tá. Tem um jeito. Mas vamos precisar de Saori pra isso.”

“Tá, legal. Agora me fala.” Ela simplesmente ignorou o aviso e se afastou lentamente, ficando em sua posição original. 

“O que há com você hoje, hein?” Um suspiro escapou da boca dele. “Bom, basicamente nós temos que pôr uma isca para Midori e as outras e deixá-las longe de qualquer lugar onde possa ser realizado um desafio.”

“Que simples.”

“Isso é vingança?” Mayck se lembrou de quando a fez se sentir mal quando disse que a ideia de jogo dela era simples. “Mas você está certa. É simplesmente isso.”

“Tá, mas… como isso poderia ser pior que sequestro?”

Não fazia sentido para a garota, mas, com certeza, havia algo lógico por trás. No caso, o sequestro seria apenas manter as garotas presas em algum lugar, de modo que não realizassem suas tarefas; um dia era o suficiente para isso. 

Porém, diferente de tal plano, agir como isca para atrair as garotas era praticamente morrer com o inimigo. Afinal, estaria levando-as para longe, para um lugar onde não deveria ser possível realizar uma tarefa, colocando a si mesmo em risco — era certeza de que todos eles seriam eliminados. 

Mayck explicou isso e ela entendeu instantaneamente. 

“A parte boa, é que sabemos exatamente onde levá-las. Já que os desafios não são feitos em lugares fora de Tóquio, qualquer vizinho serve.”

“Isso é um ponto de vista positivo… nesse caso, você seria a isca, certo?”

“Uhum.” Mayck concordou com a cabeça. “Elas querem me matar a todo o custo, então virão, com certeza. Assim como Saori falou.”

Hana ponderou por um momento. Era melhor que sequestrar, de fato, mas ainda tinha um risco problemático. Se Mayck fosse eliminado, ela conseguiria cuidar de tudo? Mas ela não era do tipo que não confiava em si mesma, então logo relaxou com a ideia. 

“Podemos ir em frente com isso. Só faltam três dias. Além do mais, você vai ter Saori como aliada. Não tem como Keiko vencer.” Mayck encorajou a hesitante Hana. 

“Está bem. Eu não vou reclamar disso. Vamos falar com ela então? Ela provavelmente vai querer saber o quanto antes.”

“Sim. Vamos por esse plano em ação ainda hoje.” 

“Uhum.” 

De repente, um silêncio brotou no meio deles. Parecia não haver mais coisas a serem discutidas ou talvez eles simplesmente não soubessem o que dizer. Hana se incomodou com isso e apesar de ser um pouco difícil, ela abriu a boca. 

“E quanto à sua família. Algo novo aconteceu?”

“Talvez as coisas só estejam mais complicadas agora. Meus avós se lembram de mim, então vai ter um caos em casa quando meu pai voltar…”

“Isso é bem ruim, né? É melhor nos apressarmos para fazer alguma coisa.”

“Você está certa… preciso fazer algo”, Mayck afirmou, mas Hana não gostou de como foi afirmado, então ela apertou seus olhos e inflou as bochechas, fazendo um som, irritada. Em seguida, puxou a orelha do garoto. 

“Você, não. Nós temos que fazer algo. Não esqueça do que me prometeu.” ele fez a correção de forma bem agressiva. 

“Aiai… tá bom, desculpa. Nós faremos algo.” Ele respondeu obedientemente, esperando que ela soltasse sua orelha e ela o fez, dizendo ‘ótimo’.

“Enfim” Hana se levantou. “Me espere no fim da aula. Vou avisar Natsuki-san que vou faltar o clube hoje.”

“Okay. Até mais tarde então.” O garoto acenou para ela e a observou passar pela porta das escadas, sumindo de seu campo de visão em seguida. 

Bom… vou jogar essas coisas fora. Ele apertou a embalagem de um sanduíche e pegou uma latinha de refrigerante. Como não havia lixeiras no telhado, ele foi obrigado a descer e descartar as embalagens no pátio interno. 

O sinal tocou, finalizando o horário do intervalo.

Mayck mandou uma mensagem para Saori, antes de entrar na sala, pedindo para ela encontrá-los na mesma estação de antes. A mensagem foi vista imediatamente e respondida com um simples ‘okay’.

Agora está nas mãos de Hana. Tenho que fazer o meu melhor para não deixar elas fugirem.  

Ele entrou na sala e se sentou em sua carteira. 

Talvez tenhamos uma conclusão bem fácil nisso tudo. Se Keiko for a única inimiga que restar, não vai ser difícil cuidar dela. Mas, claro, ela vai vir com tudo quando souber que suas amigas foram eliminadas. É bom Hana se cuidar. 

Ele acreditava na força de Hana, mas não conseguia evitar se preocupar. Já tinha presenciado a força de Keiko, foi uma demonstração simples, mas ele pôde comparar com a força de Ryuu e Kanemi. Era a força digna de um subordinado direto de Yang. 

Seja como for, não vai ser uma disputa fácil. 

O professor entrou na sala e anunciou o início de sua aula. Todos os alunos voltaram para seus assentos e voltaram sua atenção a ele, assim como uma escola deveria ser. 

Para Mayck não foi diferente, mas enquanto ouvia a explicação da matéria, ele viajou para outro mundo, pensando no que fazer. Isso lhe rendeu uma repreensão por não ter respondido quando o professor o chamou. 

<—Da·Si—>

Depois de ouvir toda a declaração de Keiko acerca de seus objetivos ocultos, Midori, assim como as outras duas, não podiam se manter paradas. Em segredo, elas planejavam atacar Mayck sozinhas, como Saori imaginou. 

Elas não queriam deixar Keiko carregar tudo sozinha e após toda aquela discussão, um peso recaiu sobre elas. Estavam sendo constantemente protegidas por ela e vivendo sorridente sob o sofrimento da garota que elas consideravam uma irmã mais velha. 

Tal gatilho as fez querer se mover. Se dessem um fim em Mayck e em toda aquela situação, poderiam proteger as outras. Era isso o que cada uma pensou. 

Quanto a Saori, elas se sentiram mal por terem se dirigido a ela daquela forma, mas seu desejo de vingança e orgulho eram maiores do que dar ouvidos a ela. Em suas mentes pairava a ideia de que Saori estava com medo, por isso estava agindo de forma irracional. 

O sol já estava prestes a se pôr. O calor do verão diminuía consideravelmente enquanto a lua se levantava no horizonte. 

Enquanto Midori voltava do colégio, uma ligação desconhecida foi encaminhada para o celular dela e após analisar por alguns segundos, ela atendeu. Poderia ser apenas um trote ou outra ligação, mas não naquele caso, onde seu telefone só recebia ligações referentes a trabalho, vindas de suas amigas. 

Um número desconhecido certamente causava curiosidade. 

“Alô?” Ela esperou por uma resposta. Quando veio, seu espanto a fez ficar com o corpo rígido. 

“Midori? Parece que eu liguei no número certo.”

“… O que você quer desgraçado?” Seu tom de voz ficou ameaçador e sua feição assustadora, contrastando com a expressão boba de sempre. 

“Hmm… primeiro eu quero que você relaxe e me escute”, Mayck falou com um tom indiferente. 

“Relaxar… Que cara de pau a sua por vir falar comigo desse jeito… Vai tentar me convencer com suas mentiras igual fez com Saori?”

Em vez de retrucar, Mayck apenas soltou um suspiro e continuou.

“Eu sei o que você está pensando agora. Se eu fosse tentar te convencer só perderia o meu tempo, então vou te dizer de uma vez. É tudo verdade. E se você quiser vingança, venha me encontrar ainda hoje.”

As palavras foram ditas rapidamente, fazendo Midori apenas arregalar os olhos sem conseguir reagir a tempo.

“O quê..?!” Quando ela disse isso, restava apenas o interminável ‘bip’ de fim de chamada. Uma notificação apareceu em seguida.

Tratava-se de uma localização enviada por um contato desconhecido. Midori não esperou duas vezes para olhar. O endereço era em uma área remota, bem longe de Tóquio. Depois de consultar o mapa, ela viu que era uma área com bastante vegetação. 

Ele deve querer lutar contra mim. Ela cerrou os dentes e apertou os punhos. Muito bem, imbecil, desgraçado. Eu vou acabar com você hoje mesmo. 

Desligou o celular e pisoteou o chão até a estação. 

Ela só não sabia que a mesma ligação foi feita para as outras duas. E as palavras de confissão foram ditas de forma vaga, mas todas elas estavam com o sangue fervendo e cegas pela vingança, de forma que nem podiam pensar no que elas poderiam significar. 

Mas esse era o plano de Mayck. Isso garantia que elas fossem até ele sem hesitação, e sem ao menos questionar o motivo do lugar ser tão distante de onde estavam. 

No máximo, elas pensariam que fosse para não causar danos na cidade ou chamar a atenção dos civis ou das autoridades, uma vez que ele era filiado à Black Room e não podia fazer bagunça em ambientes urbanos e rurais. 

Depois de pegar o trem e viajar por mais de uma hora, Midori desceu da estação e seguiu diretamente e implacavelmente até o ponto de encontro, adentrando uma vegetação extensa e escura, já que o sol havia se posto há algum tempo. 

Enquanto caminhava com seu coração ardendo em chamas, Midori alimentava seu próprio ódio, relembrando seus momentos com Kin e as outras que foram interrompidos por causa de Mayck. Além de lembrar de tudo o que fez por aquele momento. 

Ela não sabia ao certo como chegaria até o local exato, mas seguiu em frente, conforme sua intuição mandava. E em dado momento ela chegou até uma clareira rodeada de pequenos montes e rochas, onde já não tinha nenhuma visão da área urbana. 

Entretanto, não foi a paisagem iluminada pela lua que roubou sua atenção, mas, sim, as duas figuras que viu, saindo de dois pontos diferentes da floresta. 

Ela se alarmou e se posicionou para um combate, mas seus olhos se arregalaram quando, com a ajuda da lanterna do celular, ela viu de quem se tratavam. 

“O… O que vocês estão fazendo aqui?!” Elas disseram em uníssono. 

“Sou eu quem deveria perguntar… Vocês receberam uma missão por acaso?”

“Eu…”

“E quanto a você, Midori? Deveria estar em casa, não é?”

As três ficaram em silêncio. A essa altura, elas já tinham percebido do que se tratava aquilo tudo. Mayck, com certeza, as tinha reunido ali. 

“Julgando pela reação de vocês… quer dizer que vieram por causa dele?” Yuriko foi a primeira a se pronunciar após algum tempo. 

“Parece que ele decidiu enfrentar nos três…” Aiko olhou para o chão com uma expressão dura, enquanto mordia a ponta do dedão da mão direita levemente. 

“Ele está nos subestimando… aquele desgraçado…!”

Além disso, havia outra coisa que elas queriam dizer, mas não sabiam como abordar tal assunto. Não era simples dizer palavras como: ‘por que estão aqui? Vão embora que eu resolvo tudo’.

Instantaneamente elas já sabiam o porquê de cada uma estar ali; todas queriam resolver aquele problema com suas próprias mãos. 

“Vocês sabem que Keiko não vai gostar nada se descobrir que vieram fazer tudo sozinhas.”

“Isso vale pra você também, não é, Yuriko?” Elas não tinham coragem de olhar nos olhos umas das outras. 

“Ela sempre foi assim… sempre querendo lidar com tudo sozinha.” Aiko, de repente, puxou um assunto, o qual todas entendiam bem. 

“Pois é… Quando fomos capturadas ela recebeu o triplo da nossa punição em nosso lugar.”

“Sim… Aquela bobona… ela queria sempre estar na frente. Dizendo que a mais velha tinha que proteger a mais nova.”

As palavras morreram ali. Não era surpreendente que elas estavam dizendo aquelas coisas apenas para ganhar tempo, visando conseguir coragem para dizer aquelas palavras… mas ela não vinha. 

O som dos grilos no matagal extenso; a brisa da noite que balançavam seus cabelos e produziam o farfalhar das folhas pareciam dizer mais coisas. 

“Escutem… Vão embora.” Yuriko quebrou o silêncio entre elas. 

“Me recuso.”

“Eu não vou.”

As respostas vieram imediatamente e Aiko acabou rindo levemente.

“É ridículo… tão ridículo que chega a ser engraçado. Nós sempre somos as que são protegidas e quando decidimos fazer algo, não conseguimos concordar.”

“Isso é verdade. Até mesmo a gente quer fazer algo pelas outras.”

O orgulho delas como membros da família não permitiria que elas deixassem outras se machucarem. 

“Que tal nós decidirmos isso com fatos. A mais forte de nós fica e as mais fracas vão pra casa e fingem que nada aconteceu.”

“Que idiota você é, Midori… Mesmo que as mais fracas voltem, não vai mudar nada.”

“Então o que vamos fazer?!” Midori esbravejou, batendo o pé no chão e quebrando um galho seco que estava debaixo dele. Sua voz ecoou pela floresta. “Eu não quero que vocês se manchem ainda mais fazendo esse tipo de trabalho imundo.”

“Eu penso a mesma coisa. E justamente por pensar a mesma coisa, não vou aceitar o seu pedido.”

“Parece que somos egoístas a esse ponto.”

No fim, elas só queriam se redimir por estarem sempre atrás, deixando toda a dor sobre Keiko. Isso precisava ter um fim, mas elas nunca aceitariam lutar juntas, devido ao senso de obrigação que era mais forte que a amizade delas. 

Cada uma se tornou superprotetora à sua própria maneira. 

Aiko, que se mantinha calma e racional, Yuriko estava ficando cansada e Midori prestes a explodir. Mais uma vez o silêncio tomou a frente, até que outra voz o quebrou. 

“É bom ver que vocês ainda se importam umas com as outras.”

Elas se voltaram rapidamente para o topo de uma rocha. Em circunstâncias normais, elas teriam percebido que era Mayck, mas a voz foi reconhecida como sendo outra pessoa. 

Os olhos das três se tornaram sombrios enquanto fitavam a figura. 

“O que você está fazendo, Saori?” 

Encapuzada até então, a garota revelou seu rosto que estava na direção da lua. Sua capa esvoaçante com o vento. 

“Eu só queria me certificar de que vocês ainda eram vocês mesmas.”

“Isso não faz sentido… a única que saiu de si foi você.”

“Ontem, eu fui falar com Yang, mas ele não estava. Encontrei apenas Kanemi, Ryuu e Shiro, que me contaram algo… muito ruim.”

“An?”

Apreensiva, Saori respirou fundo. Elas provavelmente não acreditariam, mas seu objetivo estava claro. Se todos os cálculos estivessem certos, então só precisava segurá-las ali até a meia noite, quando o tempo limite para a realização das tarefas iria expirar. 

“Parece que… nós fomos usadas esse tempo todo. Para o que, eu não sei, mas tenho certeza que estamos sendo enganadas por Yang há muito tempo.”

“Enganadas? Você está falando disso outra vez? Saori…”

“Me escutem!” Saori deu um passo à frente. Dessa vez, ela não iria aceitar ser deixada para trás. “Tudo parece conveniente demais, mas eu sei que no fundo vocês duvidam daquele cara. Não tem como ele ser uma pessoa boa.”

“Mas ele nos tirou daquele inferno… Como poderia?”

“Eu não sei. Mas é claro que o que está acontecendo agora é algo que ele queria. Ele quer ver Mayck-san morto e por isso criou aquela história…” A voz de Saori se enfraqueceu.

Eu sinto que vou chorar. Ela mordeu os lábios antes de continuar. 

“Vamos, meninas, eu sei que vocês conseguem entender…” Sua voz ficou trêmula. 

Ela sabia desde o início que não seria fácil. Estar sendo ignorada por sua família. Ela conseguia entender como Mayck estava se sentindo. 

“Por favor… pensem um pouco…”

“E mesmo que seja isso, e daí? Por que Yang iria querer matar Mayck? por puro capricho? Por que Mayck olhou feio para ele? Não tem como eu acreditar nisso, Saori. Não enquanto você não tiver com provar.” Midori, porém, mostrou-se totalmente contra. 

Dentre as quatro, elas era a mais inclinada para os sentimentos, portanto, não aceitaria qualquer história incompleta como a verdade. 

Ela virou-se para sair, sabendo que não encontraria Mayck ali, e anunciou sua saída. Entretanto, uma corrente de ar poderosa soprou em sua frente, derrubando algumas árvores.

Midori voltou-se para Saori com um olhar perturbado. 

“O que você pensa que está fazendo..?!”

“Eu… sou a terceira irmã mais velha. Então você tem que me escutar quando eu falo, Midori.” Seus olhos carregados de lágrimas prestes a ceder, Saori tentou manter um tom sério, embora seu corpo ainda relutasse. 

“Se você continuar com isso, eu não vou pegar leve com você.”

“Saori…” Aiko balbuciou, vendo a atitude de sua amiga. 

“Eu não vou deixá-las sair. Tenho o dever de tirá-las do caminho de Mayck-san. Mesmo que isso signifique… machucar vocês.” Ela tomou coragem para dizer. Doía-lhe o peito por dizer tais palavras. 

“Bem dito. Então eu vou fazer o que for preciso pra ir embora.”

Midori, sem hesitação em seu coração, correu para Saori, enquanto um bastão luminoso surgia em suas mãos. Ela o girou e saltou. 

Saori estava ali no lugar de Mayck por sua própria vontade. Quando foi comunicada sobre o plano, ela insistiu em fazer o papel de isca. Afinal, apenas ela poderia ter uma chance de abrir os olhos de suas amigas para a verdade. 

Mesmo que isso não dê certo… é minha responsabilidade cuidar delas quando a irmã mais velha não está. 

Midori manejou o bastão na direção de Saori e uma corrente concentrada de ar agiu como uma barreira entre elas, então o golpe não atingiu.

“Tsk.” Midori estalou a língua enquanto caía para o solo. Ela sabia do poder que Saori possuía e ela parecia estar levando a sério. 

“Já que é assim, vamos ver o quão determinada você está.” 

Yuriko correu adiante de sua amiga e parou ao pé da rocha, mirando Saori com uma pistola ornamentada e disparando projéteis brilhantes azuis translúcidos a uma velocidade alucinante. 

Porém, outra vez, a corrente de ar bloqueou os disparos fazendo um movimento espiral. 

Foi a vez de Aiko se juntar à luta, e após sair do campo de visão da manipuladora de ar, ela convocou um pássaro incandescente que explodiu ao fazer contato com a barreira de ar, enviando uma onda de choque por todos os lados e agitando a floresta silenciosa até alguns minutos. 

Ela evoluiu bastante. 

Aiko se sentiu indignada ao ver que nenhum arranhão fora infligido em Saori, apesar de que ela foi obrigada a mudar de lugar já que a rocha foi completamente obliterada. 

“Parece que você não ficou só chorando pelos cantos, Saori-chan.” Uma pitada de ironia na voz de Midori. 

“Eu nunca fui fraca”, Saori retrucou.

O motivo de estar ali era só um: o amor que sentia por suas amigas. 

Mayck confiou nela para cuidar disso, então ela iria em frente até o fim. 

Aiko, em uma arrancada veloz em direção à Saori, iniciou uma série de chutes giratórios que eram bloqueados de forma eficiente. Isso deixou uma abertura para Midori avançar e tentar atingir Saori com seu bastão, dessa vez obteve sucesso e a acertou no braço, que foi a única forma que Saori achou para bloquear e evitar ferimentos sérios

Ela foi jogada para longe, mas pôde se recompor e se manter em pé. 

Ela olhou para seu braço. Sua blusa estava levemente corroída e um buraco havia sido feito por causa do corrosivo presente no bastão de Midori. Um contato mais prolongado teria corroído sua carne. 

Outros projéteis azuis translúcidos voaram contra ela e ela se esquivou, porém, sentiu que algo estava diferente. Os projéteis deixaram o ar mais quente ao passar. 

Água fervente?

Se isso lhe atingisse, não seria apenas um grande ferimento, dada a pressurização da água, mas também uma grande queimadura com aquele líquido que estava em seu ponto de ebulição. 

Saori encarou as três, estreitando os olhos. Elas estavam com expressões totalmente sérias. 

Eu não tenho escolha. Fui eu quem procurei isso, então tenho que arcar com as consequências. 

Infelizmente, sua ID não era do tipo de combate e nem uma usada em combate direto, então ela só podia contar com as habilidades do elemento base que ela possuía. Se Midori e as outras decidissem usar suas IDs, então as coisas escalariam para um nível de dificuldade ainda maior. 

Tá tudo bem. Eu só preciso mantê-las ocupadas. Sou o suficiente para isso. 

Ela abriu os braços, o que fez a corrente de ar ficar ainda mais poderosa. As árvores davam sinais de que seriam jogadas para longe e as garotas foram obrigadas a semicerrar os olhos para que não entrassem sujeira neles. Suas roupas também tremulavam como uma bandeira pirata. 

Movendo suas mãos, Saori criou vórtices que choveram sobre elas como água. Elas fugiram dos ataques implacáveis, mas logo ele cessou e elas puderam atacar novamente. 

Midori gritou com todas as suas forças enquanto persistia em perfurar a barreira de ar com seu bastão corrosivo. 

Com a palma de sua mão, Saori manipulou outra corrente poderosa para afastar Midori dali. 

Merda… não dá para se aproximar com aquela ventania ao redor dela. 

Galhos e folhas dançavam no tornado que parecia chegar aos céus com Saori no centro. 

“Parece que não tenho escolha…” Aiko suspirou. Ela não queria que aquela luta estivesse acontecendo, mas a diferença de crenças causavam muita discordância entre elas. 

Seus olhos começaram a brilhar como fogo. Chamas a engoliram e se ajustaram ao corpo dela, colocando uma manto e uma coroa flamejante sobre ela. Lembranças de quando era pequena invadiram sua mente — lembranças de quando ela queria ser a rainha de seu próprio mundo. 

Um cetro ardendo em sua mão bateu contra o chão e centenas de aves incendiadas surgiram no céu. 

“<Hakunetsu Ōkoku>” Ao apontar seu cetro em direção a Saori, as tropas a postos atrás dela avançaram velozmente e chocaram-se contra a barreira de ar. Uma série quase sem fim de explosões iluminaram a noite de vermelho e amarelo, incendiando, também, parte da floresta.

Dessa vez, Saori não escapou ilesa. 

Porcaria… 

Com dificuldade, ela se levantou, tossindo. Sua capa fora totalmente consumida pelo fogo e suas roupas também estavam em estados deploráveis, sem contar as várias queimaduras de segundo grau por seu corpo. 

Eu consegui escapar de alguma forma… se ela fizer isso de novo… eu com certeza vou morrer. 

Ela estava ciente dos riscos que corria, mas ainda não era hora de parar. 

Talvez Midori e Yuriko não tivessem ativado suas IDs por pena. Caso contrário, ela estaria, naquele momento, completamente acabada. 

“Você ainda vai insistir?” A voz de Aiko em toda a sua majestade chegou até ela. 

“Quando foi que você ficou tão arrogante? Bom, você sempre brincou de ser uma imperatriz… faz sentido que seja desse jeito.”

“Já que não pretende parar, eu vou fazer de novo. Estou falando sério…!” Apesar de parecer exaltada, Aiko estava contendo ao máximo a dor em seu peito por estar ferindo a pessoa que considerava sua irmã. 

O mesmo valia para Yuriko e Midori, que só assistiam em silêncio. 

“Tá tudo bem, Aiko-chan. Esse é o caminho que nós escolhemos. Meu dever… não acabou ainda.”

Após respirar profundamente, Saori já estava pronta para mais uma rodada, embora ela estivesse cambaleando um pouco. 

“Sabe… isso não é nada comparado aos experimentos daquele inferno.” Sua voz era extremamente confiante e ela tinha um sorriso gentil em seu rosto. 

Isso fez Aiko hesitar. Ela não podia mais continuar com aquilo. Nem podia acreditar que estava fazendo aquilo com a sua família. 

Ela deu um passo atrás. Sua ID se desativou e ela não pôde conter suas lágrimas. 

“Eu não posso mais continuar… me desculpa… Saori.” Ela cobriu o rosto, cedendo para suas emoções mais profundas. 

Yuriko percebeu que não podia continuar assistindo. A atitude de Aiko pesou em sua consciência. Ela estava fazendo a coisa certa? O objetivo não era aquele. O que elas queriam era vingar a morte de Kin, mas como isso chegou àquele ponto?

Elas estavam apenas machucando umas às outras. 

“Já chega… Não precisamos continuar com isso.” 

“An?”

“Já que Saori chegou tão longe, talvez ela esteja falando a verdade… temos que tirar toda a história a limpo.” Yuriko começou a andar até Aiko, que estava de joelhos no chão, sem poder conter a mágoa que sentia de si mesma. 

Midori se perguntava o porquê de elas terem mudado de ideia. Elas não acreditavam mais em Keiko? Era isso o que martelava em sua mente. 

Não… não pode… elas abandonaram Kin?

“Não…” Seus pensamentos vazaram. “Vocês não podem estar falando sério… né?” Ela sorriu, mas era um sorriso amargo e desamparado de quem havia perdido o apoio dos pés. 

“Midori?”

“… Ela pode estar sendo enganada por Mayck… só pode ser isso… Né, Saori pode manipular memórias, certo? E se Mayck puder fazer a mesma coisa?”

“Midori…?!” A voz quase inaudível de Aiko, que olhou para Midori, soou apreensiva. 

A expressão de Midori. Ela estava sorrindo, enquanto as lágrimas desciam como rios por seu rosto. Ela estava completamente quebrada. Saori e Yuriko a olharam com perplexidade. O sentimento de impotência e a dor angustiante perfuraram seus peitos como lâminas afiadas. 

O silêncio torturante da floresta era preenchido com as palavras já sem razão de Midori, que não queria aceitar a verdade. 

“Não pode… isso não pode ser verdade… Pelo que foi que eu passei… foi tudo pra nada?”

Dentre todas elas, Midori foi, com certeza, a que mais se dedicou a chegar até o caminho que as levaria para a realização da vingança que elas tanto almejavam. Ouvia de Yang o que precisava fazer. Realizou todo o tipo de trabalho sujo em segredo das outras. Tirou vidas inocentes por egoísmo de outras pessoas. Tudo pelo bem da vingança. 

Ela realmente acreditou que estava fazendo a coisa certa, mesmo duvidando algumas vezes.

“Ei… Saori… Mayck está te controlando, não é? Diga que é verdade. Ele matou Kin e está querendo fazer alguma coisa ruim com a gente, não é…?”

“…”

Saori engoliu suas palavras e inconscientemente, elas desviou os olhos. Não queria olhar para Midori naquele estado. Doía muito. 

“Fala alguma coisa!”

Seus gritos foram jogados ao vento. Toda a sua certeza, o que ela acreditou e o que ela pensou ser a verdade não passavam de meras fantasias.

Ela fez tudo errado, mesmo querendo fazer o certo. 

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