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Igor:

— Não, não, cê tem que abrir mais as pernas e levar o corpo junto com o seu punho. – Eu disse para a Iza enquanto mostrava como o movimento tinha que ser.

— Assim? – Ela deu um soco no ar.

— Não! Você tem que girar mais a cintura, o seu corpo tem que seguir o seu braço! – Ela não é muito boa.

— Mas não dá! A carruagem tá balançando muito!

— Então por que eu to conseguindo? – Eu fiz o movimento de novo.

— Porque você treinou a sua vida toda!

Edward me pediu para treinar a Iza em combate desarmado e sem magia. 

Ela gostou da ideia no início, e eu também, normalmente ela aprende as coisas bem rápido, pensei que seria a mesma coisa com isso, mas não, ela é bem ruim, e para piorar, ela fica brava quando não consegue fazer o movimento certo e faz birra que nem criança.

— Quer saber, chega por hoje. – Eu disse.

— Hum? Mas nós acabamos de começar!

— É, mas você já me cansou.

— Eu te cansei? Você que explica mal! Por isso que eu não to conseguindo entender!

— Tudo que você sabe sobre sua magia eu que te ensinei e eu explico mal?

— Ei!

— Não seja tão presunçoso! Eu já sabia de tudo aquilo antes de você me falar!

— Ei!

— Claro que sabia! Assim como você conseguia ativar a sua magia rapidinho também né?

— EEEEEEI!  – Edward chamou a nossa atenção. – Chegamos.

Eu olhei para fora da carruagem e no horizonte eu vi a cidade de Trinded, suas construções eram simples, típicas de uma cidade do quarto círculo, mas com uma diferença, bem no meio dela havia três enormes estátuas, uma de costa para a outra, cada uma representando um dos três representantes de Deus na terra, o pai, o rei e o padre.

— Finalmente! – Iza disse animada olhando para a cidade.

Entramos na cidade um tempo depois, diferente das outras que passamos, Trinded não tem uma grande muralha a protegendo, na verdade a proteção de Trinded é mínima, isso porque há alguns anos atrás a cidade entrou em guerra com a cidade de Viliana e perdeu, como punição, ficou proibida de formar um exército, além disso, Trinded não tem um governante, para ser mais preciso, Trinded não tem um governante próprio, quem a governa é o governador de Viliana que de um modo geral apenas se importa com Trinded pelas riquezas e nada mais.

— Aqui… é bem feio né? – Izabella constatou enquanto olhava para as ruas de terra da cidade.

— Uma cidade do quarto círculo, eu diria que é o esperado. – Edwe respondeu.

Continuamos andando de carruagem pelas ruas que estavam inesperadamente vazias, poucas pessoas andavam por elas e as que andavam, andavam com pressa e nem mesmo olhavam para frente.

— Mas o que que está acontecendo aqui?

— Aqui costumava ser mais movimentado. – Edwe disse enquanto parava a carruagem.

— Você já veio aqui? – Izabella perguntou.

— Eu e meus irmãos já fomos na maioria das cidades em missões. – Eu respondi no lugar de Edwe – Será que está vazio por causa da derrota na guerra?

— Eu vim aqui depois da derrota, as pessoas eram sujas e quase não tinham o que comer, mas ainda assim, aqui era bem movimentado. – Edwe me respondeu enquanto continuava a analisar ao nosso redor.

Eu saí da carruagem e Izabella fez o mesmo, Edwe olhava em volta tentando entender o que estava acontecendo.

No exato momento em que coloquei os pés fora da carruagem eu senti o meu corpo inteiro se arrepiar.

— Está sentindo isso Igor? – Edwe me perguntou.

— É, com certeza tem um selo aqui.

Depois que enfrentei o sexto, a sensação de um selo por perto é algo que eu nunca vou me esquecer e com certeza tem um em algum lugar nessa cidade.

— Devíamos ter pedido para a Lilith nos dar mais detalhes sobre ele… – Edward disse enquanto descia da carruagem e puxava os cavalos pelas rédeas.

— Acha que tem poucas pessoas na rua por causa dele? – Izabella perguntou.

— Quanto pior é a cidade, mais pessoas tem na rua, então sim, com certeza isso é coisa de um selo. – Edward respondeu.

— O selo tomou conta da cidade inteira? – Eu perguntei para Edwe.

Normalmente em relatos de aparições dos selos, eles aparecem, matam qualquer um que aparece em seu caminho e desaparece, alguns, como o sexto, faz um local como território frequente, mas uma cidade inteira…

— Não sabemos que tipo de magia esse selo tem, vamos apenas procurar um lugar para dormir, no pior dos casos dormimos dentro da carruagem.

— Psiu!

Um humano nos chamou a atenção.

— Venha aqui, rápido!

Eu olhei para Edwe e ele assentiu e então fomos até ele:

— Entrem antes que anoiteça, podem deixar a carruagem aí, ninguém irá roubá-la.

Nós não o questionamos, apenas entramos, se fosse uma armadilha, nós simplesmente os derrotaríamos e seguiremos nosso caminho, se não fosse… bom, ele deve ter um motivo para chamar três estranhos para dentro da casa dele.

— Ufa! – Ele trancou a porta. – Vocês são visitantes, né?

Era um homem de meia idade, com algumas rugas e uma grande olheira nos olhos, tinha um cabelo longo e uma barba por fazer.

— Podem se sentar, me desculpem a falta de modos, mas no momento só tenho água para oferecer.

— Vocês o conhecem? – Izabella perguntou para a gente.

— Hum? Não eu não conheço vocês, sinceramente eu não achei que vocês iam aceitar entrar na casa de um desconhecido tão fácil assim. – O estranho disse rindo enquanto colocava água nos copos que ele havia trazido.

— As ruas estavam bem vazias, então eu achei que tinha algum motivo para você nos pedir para entrar na sua casa. – Edwe disse enquanto se sentava em uma das cadeiras da mesa.

Eu fiz o mesmo e peguei um dos copos de água que ele colocou na mesa.

— Você é um garoto bem perspicaz. –  O senhor disse enquanto se sentava em outra das cadeiras da mesa – Vou ser direto, há mais ou menos meio ano atrás um demônio apareceu na cidade, para o nosso azar ele era um selo. Mas de começo ele não fez nada, sendo bem sincero ele parecia ser fraco e nós começamos a ignorá-lo, mas depois de um tempo, as pessoas começaram a ter pesadelos e não conseguiam dormir a noite e então os pesadelos começaram a aparecer mesmo quando estávamos acordados e quando menos esperávamos o demônio começou a matar as pessoas que saiam de noite, agora o demônio que parecia fraco é tão forte que não importa onde ele está, é possível senti-lo.

O estranho levantou o braço mostrando que ele estava tremendo.

— Sinceramente, eu não sei quanto tempo eu vou aguentar isso.

— Por que o senhor não sai da cidade? – Izabella perguntou.

— Senhorita elfa, você não sabe o quanto eu daria para poder voltar no tempo e sair no momento em que aquela coisa chegou aqui, mas agora todo mundo que tenta sair da cidade… – Os olhos dele começaram a se encher de lágrimas e ele se virou para um sofá na sala dele.

Sentado nele, tinha uma mulher de meia idade, olhando para a lareira.

Eu me levantei e fui até ela e quando cheguei perto eu vi, a pele dela estava pálida e em seus olhos não havia nenhum vestígio de vida, ela olhava para a lareira enquanto gemia.

Izabella olhou assustada para a mulher.

— Quando ela pisou fora da cidade… Ela ficou assim.

— Isso quer dizer que estamos presos aqui? – Iza perguntou.

— Eu temo que sim, senhorita elfa. – Ele disse em tom de tristeza – Mas o mínimo que eu posso fazer é lhes dar abrigo durante a noite.

— Não podemos sair de noite? – Edwe perguntou.

— De noite é quando o selo fica mais forte, ele não entra na casa das pessoas, mas qualquer um que sai de noite, não volta mais para casa. 

— Não querendo ser mal-educado, mas por que o senhor está nos ajudando? – Edward perguntou enquanto levava o copo de água à boca.

— Sendo sincero… É porque eu não tenho nada a perder. – Ele olhou para a senhora no sofá. – E acho que eu me arrependeria de vê-los mortos amanhã de manhã e não ter feito nada… apesar que eu acho que uma hora ou outra a partir do momento que vocês entraram na cidade… vocês preferirão a morte.

O senhor se sentou ao lado do sofá junto a esposa dele.

— Subindo as escadas, vocês verão um quarto, façam-se à vontade, acho que vou dormir aqui embaixo. – O senhor disse enquanto olhava para a mulher com lágrimas nos olhos.

— Tudo bem, obrigado. – Izabella respondeu.

Edwe rapidamente subiu as escadas.

Eu me aproximei um pouco mais da senhora que estava sentada no sofá encarando a lareira.

— Eu sou médico, se importa de eu examinar ela? – Eu menti para o senhor.

— Eu já chamei um conhecido que também era médico, ele não sabe o que o selo fez, mas se você quiser examiná-la… fique a vontade. – Ele disse desanimado, mas dava para perceber uma faísca de esperança na voz dele.

— Com licença. – Eu me aproximei da senhora para examiná-la.

Izabella se aproximou e ficou observando o que eu estava fazendo.

Eu me sinto um pouco culpado por dar esperanças ao senhor, mas se eu conseguir achar qualquer tipo de pista de como funciona a magia do demônio, mesmo que seja a mínima, isso vai aumentar a nossa chance de derrotá-lo.

Eu toquei na testa da senhora e depois no pescoço, ela não reagiu a nenhum dos toques, o corpo dela estava frio e a pele pálida. 

Eu chequei a pulsação dela tanto pelo pescoço quanto pelo pulso, era difícil de perceber, mas existia, porém, não o suficiente para manter alguém vivo, eu criei uma pequena chama no meu dedo e aproximei ela do olho da senhora, as pupilas reagiram, ela está viva…? Não…

Eu aproximei o fogo na ponta dos meus dedos na mão dela estava quente a ponto de queimar, mas ela não reagiu

Ela está definitivamente morta, mas está consciente. Que magia assustadora.

— Você vai acabar machucando ela assim. – O senhor tirou a minha mão da mão dela.

— Me desculpa, acho que me distraí.

— Deveria tomar cuidado, principalmente com damas tão frágeis como ela. – Ele disse enquanto acariciava a parte da mão dela que eu queimei levemente. – E então? Como ela está?

Ela está morta, mas está consciente.

Se eu falar isso, como ele vai reagir? Ele pode nos expulsar da casa dele, Edward não iria aceitar dado ao nosso conhecimento de que o demônio é mais forte a noite e provavelmente expulsaria o senhor da própria casa ou no melhor dos casos o prenderia…

— Ela está viva, mas inconsciente, acho que quando o demônio sair daqui ela recuperará a consciência. – Eu menti, a única coisa que a está mantendo viva, provavelmente é a magia do demônio.

O senhor deu um leve sorriso de alívio.

— Que bom! Que bom que eu os chamei para minha casa! O médico anterior disse que não tinha ideia da situação dela, eu já estava perdendo as esperanças. – Ele começou a chorar. – com certeza Deus os colocou em minha vida para dizer para que eu não perca as esperanças.

— …

— Muito obrigado Senhor. – Ele disse enquanto secava as lágrimas do rosto. – Eu… eu nem sei o seu nome…

— Igor.

— Muito obrigado senhor Igor. 

Por favor, para de me agradecer, eu menti para você… você me recepcionou na sua casa e mesmo assim eu… menti para você…

— Se me der licença, eu estou um pouco cansado. – Eu disse enquanto saia de perto do sofá.

— Sem problemas, eu devo estar te incomodando, não é? Desculpa.

— Não, eu… eu entendo como você se sente. – Eu me forcei a sorrir. – Vamos Iza, vamos deixá-lo a sós com a mulher dele.

Iza me seguiu enquanto eu subia as escadas para o segundo andar da casa.

O segundo andar da casa só tinha um cômodo que era um quarto de casal do senhor que emprestou a casa, acabo de perceber que não perguntei o nome dele.

Nós dois entramos no quarto que tinha apenas uma cama de casal para dormirmos e Edwe estava olhando a rua escura pela janela.

— O que você acha Igor?

— Eu acho que teremos que decidir na sorte quem vai dormir no chão…

— Eu estou falando do selo. – Edwe interrompeu o meu pensamento.

— Ah! Com certeza é do tipo “nocmidor” e o que ele se alimenta… medo?

— É o que eu pensei, mas ele está fazendo isso em alta escala, uma cidade inteira.

— O que é um “nu..quimi…dor”? – Izabella perguntou.

— São demônios que se alimentam de sentimentos e emoções, felicidade, tristeza, dor e por aí vai. Quanto mais esse sentimento de que ele se alimenta se manifesta em inimigos, mais forte ele fica, mas normalmente é algo que tem que estar perto, mas o que estamos enfrentamos, tem uma cidade inteira como alimento.

— A senhora lá embaixo, se a gente matar esse selo… nós conseguimos salvá-la? – Izabella perguntou.

— Aquela humana está morta. – Eu cortei qualquer tipo de esperança que Iza pudesse ter de salvar a senhora.

— ?!

— A única coisa que está a mantendo viva é a magia do selo, que está evitando que ela morra, ele está fazendo isso para não perder o alimento, sinceramente, aquele humano acha que está cuidando bem da esposa, quando na verdade ele só está prolongando o sofrimento dela, se ele realmente quisesse ajudá-la, ele deveria simplesmente acabar com o sofrimento dela. – Eu completei.

— Mas não tem nada que a gente possa fazer? Igor você disse que-

— Eu menti. – Eu a interrompi antes que ela completasse.

— Então… então nós temos que falar para aquele senhor sobre a esposa dele, temos que avisar que ele está fazendo a mulher dele sofrer!

— Shhhh! – Eu tapei a boca dela. – Ele vai te ouvir!

Ela me empurrou e virou para Edward.

— Edward!

— Nós não vamos falar nada. – Edwe disse enquanto se deitava na cama.

— Mas!

— E se você falar para ele, ele ficar bravo e nos expulsar daqui? Estaria disposta a enfrentar o selo? – Edwe perguntou. – Porque eu não estou.

— Mas ele talvez não nos expulse! – Ela abaixou o tom. – Ele pode nos agradecer por avisá-lo que a mulher dele está sofrendo.

— Muito bem. – Edward se sentou. – Avise para ele que a mulher dele está morta, avise para ele que Igor mentiu. – Ele ouviu o que eu disse. – E então confie no seu “talvez” que ele não tente nos expulsar daqui.

— O que você quer dizer com isso? – Ela perguntou.

— Se ele tentar nos expulsar daqui… eu vou expulsá-lo daqui, eu vou tirá-lo da própria casa e amanhã quando amanhecer e “talvez” ele estiver morto na rua… vai ser culpa do seu “talvez”. 

— …

Izabella ficou em silêncio.

— Enfim, boa noite. – Edwe voltou a se deitar na cama.

— Quem disse que a cama é sua? – Eu reclamei.

— Eu disse, quem quiser dormir no outro lado da cama só deitar.

Eu olhei para a Izabella, ela não parecia se importar com isso, ela está incomodada com a situação.

— Não se preocupe, pode deixar que eu durmo no chão. – Ela disse.

— Tem certeza?

— Sim.

Ela abriu o guarda-roupa e pegou alguns cobertores que estavam dentro dele e forrou eles no chão.

— Igor… – Ela chamou a minha atenção enquanto fazia a cama dela.

— Hum? – Eu respondi enquanto tirava a minha bota.

— … – Ela ficou em silencio. – Não tem nenhum jeito de salvá-la?

— Não, aquela mulher está morta, você sentiu, não sentiu? Não tinha nenhum tipo de magia vindo daquela mulher, ela está morta.

— Mas os olhos dela estavam abertos…

— Ela está morta. – Eu reafirmei. – Mas de alguma forma o demônio consegue deixar ela viva para que sinta medo, é uma técnica cruel… digna de um selo.

Ela se deitou.

— Entendo…

Se eu não tivesse mentido isso não teria acontecido, eu deveria ter falado a verdade, pelo menos para ela. 

— Tudo bem então. – Eu me deitei do outro lado da cama de costas para Edwe e fechei os olhos. – Boa noite.

Eu puxei o cobertor de Edwe e me cobri.

— Pega um cobertor pra você! – Edward reclamou.

— A Iza está usando os outros como cama e esse cobertor é grande o suficiente para nós dois. – Eu retruquei.

Ele puxou o cobertor de mim, descobrindo meu pés.

— Ei! – Eu reclamei enquanto puxava o cobertor de volta.

Ficamos um tempo na briga de quem ia ficar com a maior parte do cobertor, no fim Edwe usou a autoridade do juramento para fazer que eu não puxasse mais o cobertor dele, apesar de eu ter ficado irritado, eu não pude reclamar e com o tempo eu acabei dormindo.

Uma criança chorava incessantemente enquanto andava pela rua, ao seu redor, fogo, as casas ardiam em chamas, as pessoas ao qual passava perto da criança entravam em chamas e gritavam desesperadas, mas nenhum grito se comparava ao choro daquela criança, as lágrimas que caiam de seu rosto, antes de chegar ao chão, evaporavam.

— Você está bem? – Izabella perguntou para o garoto.

O garoto parou de chorar e olhou para a elfa que lhe oferecia a mão.

VUUUSH

A elfa entrou em chamas.

— Ahhhh! – Eu acordei ofegante.

— Arf, arf, arf.

Um pesadelo? Eu olhei para o lado e Edwe não estava mais lá e no chão, no pé da cama a elfa se debatia no chão enquanto murmurava:

— Isso dói! Para! Por favor!

— Ei! Ei! Iza! – Eu a balancei para acordá-la.

Ela se levantou com um pulo e colocou a mão sobre o ombro.

— Você está bem? – Eu perguntei.

— Eu… eu… – Os olhos dela estavam começando a se encher de lágrimas.

— Foi… um pesadelo.

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Olá, eu sou Evaze!

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