Eu agi como uma besta em seu habitat mais perfeito. Não houve hesitação, erro, ou barulho. A vida da garota deixou de existir de um segundo para o outro quando eu pulei do telhado atrás dela e cravei minha lâmina, atravessando seu crânio e virilha.
Meus dedos envolvidos em gelo e terra rasgaram sua carne por trás do pescoço, criando um caminho por sua garganta e peito, então agarrando o coração e arremessando-o no chão como uma mensagem mórbida quando levei seu corpo para cima.
Isso tudo foi em questão de, no máximo, quatro segundos. Aquelas pessoas estavam na minha casa, e não o contrário.
Entretanto, eu não ganhei energia da morte com essa ação. O requisito para isso era tirar várias vidas em um único lugar. Resumindo, o acúmulo de cadáveres criava essa energia que naturalmente vinha para meu núcleo agora escuro.
Mas como minha compreensão sobre meu poder era natural, havia um pequeno segredo nisso.
Eu sabia que quanto mais brutal, abominável e hedionda era a morte, maior seria a energia. A violência contida em um único assassinato poderia compensar algumas mortes mais simples.
Eu não havia ganhado esse tipo de energia anteriormente quando torturei aqueles homens, pois provavelmente meu núcleo não havia obscurecido, se é que isso faz sentido.
Os jovens reagiram de maneiras diferentes ao presenciar o sumiço repentino. O ruivo não demonstrou nenhuma reação imediata.
Ele apenas observou a poça carmesim com um olhar vazio, sem dizer nada. Seu aperto se mostrou tão fraco que suas espadas caíram e levantaram uma pequena nuvem de poeira.
“…Nicka?” Indagou, se aproximando do sangue e erguendo sua mão, mas hesitando antes de fechar o punho. “Quem fez isso?!” Gritou pro céu ao pegar suas lâminas de volta.
“Controle-se, Julian!” O jovem de cabelos escuros exclamou ao observar seu arredor. Neste momento eu estava observando-os por trás de uma janela.
No entanto, eu não poderia esperar. Meu amigo estava morrendo e o poder que usei para curar Stella era a aposta mais confiável para regenerar aqueles ferimentos misteriosos.
Controlei Caedes e ela desceu do céu, atacando verticalmente atrás do jovem ruivo. Infelizmente, seu amigo o protegeu ao chutá-lo na lateral, desviando-o da trajetória do ataque.
“Que merda é essa?” O jovem de cabelos escuros reclamou, posicionando sua alabarda em uma posição defensiva.
Caedes se manteve fixa no ar, deitada horizontalmente. O evento despertou o ruivo de seu breve luto.
Seus olhos tremeram quando notou o sangue que cobria Caedes.
Eu mantive o sangue porque sabia que isso iria afetar Julian, o jovem ruivo. “Essa espada voadora matou minha irmã…?” Ele indagou ao se levantar.
Não perdi tempo e fiz Caedes lutar com os jovens. O som de metal colidindo ecoou pelos becos incessantemente quando ela atacava e defletia.
“Nicka pode não estar morta, Julian! Concentre-se e encontre um jeito de destruir essa espada!” O de alabarda declarou.
Para o azar deles, Caedes sobreviveu às peles mais resistentes de demônios capazes de extinguir uma cidade em um único dia, então seu plano era fadado ao fracasso.
“O coração dela ainda tá pulsando no chão! Como ela pode estar viva?!” Refutou Julian, atacando Caedes com um ódio que até eu percebi.
“Não esqueça que estamos lutando contra um mago covarde que nem tem coragem de se mostrar. Pode ser algum truque maldito.” Continuou a tentar despertar seu companheiro da fúria.
Presenciei uma visão interessante quando o jovem de cabelos escuros falhou em sua tarefa. Veias vermelhas e saltadas surgiram no rosto de Julian, e seu olho emitia um brilho carmesim quando seus caninos cresceram.
‘Que poder é esse?’ Pensei ao me preparar para intervir.
“Não use sua bendição, idiota. O comandante vai perceber e você sabe que não temos permissão para isso!” O jovem de alabarda tentou impedir, mas acabou respondendo minha dúvida.
‘Bendição? Isso é algum poder postulado?’ Meus instintos estudaram a reação externa que as veias causaram no corpo do ruivo, mas apenas um aumento súbito de força, velocidade e reflexo apareceu.
Caedes começou a recuar e perder vantagem com isso, mas eu intervi.
Um fragmento de gelo envolvido em raio rasgou o ar e mirou na cabeça do homem de alabarda, mas o mesmo desviou sem nem olhar para trás.
Isso me surpreendeu, afinal o ataque foi muito rápido. “Finalmente apare-” Seu rosto se mostrou surpreso. “Uma criança?” Questionou ao virar-se para mim.
Sua hesitação quase foi seu fim, afinal ele cometeu o erro de virar as costas para Caedes.
Essa era a armadilha de uma emboscada, oferecer riscos em todas as direções. Não hesitei em lançar Caedes até ele, mas meu plano foi impedido.
Duas espadas acertaram minha lâmina por cima, sua força foi tão absurda que superou a magia de vento que a envolvia e a atirou no chão.
Então Julian, o responsável por isso, pisou em Caedes e a manteve presa abaixo da sola de seu pé.
Sua boca estava espumando e sua pupila dilatava e comprimia repetidamente. Seu poder parecia causar um frenesi extremo.
Suspirei e emaranhei uma camada protetora de terra, gelo e raio respectivamente em meus punhos e antebraço.
Um espinho de terra cresceu do chão, repentinamente, quase acertando o jovem de alabarda se ele não tivesse desviado.
‘Como ele consegue sentir a magia tão bem?’ Pensei, mas meu raciocínio foi interrompido quando ele correu em minha direção.
Sua alabarda se manteve horizontal e a ponta acima de sua lâmina de machado me ameaçou, mas não hesitei.
Corri até meu inimigo e nossa distância se encurtou em instantes. Sua arma se aproximou perigosamente, mas um chute com minha perna direita desviou sua trajetória e me permitiu atacar o rosto do jovem agora próximo o suficiente.
Meus dedos se arquearam para perfurar seus olhos e me dar vantagem durante a luta, mas o homem habilmente girou o corpo e acertou o cabo da alabarda em minha cabeça.
O impacto me afetou um pouco, mas um espinho de gelo cresceu abaixo de meu pé e perfurou o joelho dele quando pisei em sua perna.
Mirei na articulação de sua armadura, mas ela era muito fina para me permitir causar muito estrago. Ele manipulou sua arma com maestria e tentou me perfurar, mas a junção de vento e raio em meus pés cancelou o atrito do chão e recuei em alta velocidade.
“Quem é você?” Ele indagou entre respirações. Olhei por cima de seu ombro e Julian me encarava com uma fúria sinistra.
Não respondi. Meu tempo já era curto, eu não queria enrolar o resultado da luta. Facas de gelo surgiram entre meus dedos e um líquido escuro as cobriu.
Lancei todas as cinco em direção ao homem, mas ele defletiu todas. No entanto, a camada sombria se espalhou na frente de seu rosto quando os pedaços gélidos caíram no chão.
Algumas gotas pretas caíram em sua boca e olhos azuis, causando efeitos indesejados que o atrapalharam. Ele colocou a mão no rosto e fez uma expressão de dor.
Sua íris se tornou escura quando o ataque de escuridão mirou em sua consciência, mas a quantidade era muito pequena para causar algo drástico.
Entretanto, a vantagem de desconcentrá-lo ainda existia e me ajudava.
A luta seria incômoda sem Caedes, mas eu consegui ver várias possibilidades de matá-los graças aos meus instintos.
‘Você consegue fugir? Sei lá, devorar o pé desse cara?’ Perguntei para minha lâmina.
‘Não, mestre. Não consigo devorar matéria sólida, apenas energia. Mas eu posso sugar sua vitalidade pelo sangue se você machucá-lo no membro que me prende.’
‘Devia ter me falado isso antes.’ Pensei uma última vez enquanto me preparava para voltar à nossa troca de golpes.
Mas para minha infelicidade, e provavelmente dos meus oponentes também, uma pedra gigante envolta em chamas caiu do céu em nossa localização, logo depois que uma explosão insana soou.
Parecia ser o resquício de um ataque extremamente forte, mas não pensei muito nisso quando percebi que nós estávamos no acaso de sua trajetória.
