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Capítulo 12 – Catalogação (4)

— Snegriya é frio? — indagou Rebecca. — Perdão. Que pergunta idiota. O país da neve não ser frio, foi muito idiota — sorriu nervosa. — Mas… o quão frio realmente é?

— Você morreria de hipotermia em três dias — respondeu Ivan.

— Em qual deus vocês acreditam? — indagou Aryna. Ivan alfinetou ela como se tivesse o insultado. — Desculpa, é que gosto de cultura.

— Em nenhum. Não cremos em seres da natureza ou divindades, muito menos espíritos. Apenas na casualidade.

— Casualidade?

— Sim. Acreditamos que as coisas acontecem porque há de acontecer, não porque uma divindade ditou como tem de ser. E os deuses? Bom… sem querer desrespeitar, mas são apenas humanos que alcançaram outro patamar de poder. Claro, isso é o que acreditamos na região em que nasci. Talvez em outras sejam diferentes…

— Entendo… nunca pensei que existiria uma civilização que não acreditasse em um deus. E você, senhor da realeza. Conseguiu fazer algo?

Apoiando o caderno sobre sua perna, Antony rabiscou uma esfera de energia que flutuava logo a sua frente.

— Tô quase terminando. Vem cá, o que escrevo nisso?

Ivan garfou uma quantidade enorme de ar.

— É um cristal arcano. Se passarmos da demarcação de energia, ele vai nos atacar de alguma forma.

— Como exatamente?

— Não sei. São imprevisíveis. Em Snegriya tem de monte, por ser um continente quase inabitável, a quantidade de mana e núcleos naturais são mais presentes. Já encontrei dezenas desses, e cada um reagiu de uma forma diferente.

— Então lá dentro pode, tipo, acontecer uma explosão? — indagou Rebecca.

— Sim. Quer testar, Sir Windsor?

— Quais são as outras probabilidades? — indagou Antony.

— Está mesmo considerando isso? — perguntou Rebecca.

— Claro, por que não?

— Deixa ele se matar, Beca — disse Aryna.

— Bom… — iniciou Ivan. — Existem dois tipos de cristais arcanos: o tipo natural, no qual são gerados pela mana. Geralmente só liberaram cargas fracas de energia. E o cristal nuclear: aquele desenvolvido após a morte de uma besta. Quando um animal mágico morre, seu núcleo libera a energia acumulada e cria uma espécie de território no qual, quem entrar é surpreendido. Na maioria das vezes invoca alguns correspondentes ao dono anterior daquele núcleo.

— Então, se eu entrar ali, posso ser atacado por um jato de energia ou por algum animal selvagem? Por que não?

Fechando o caderno e jogando para o lado, Antony parou para criar coragem e entrar no território do cristal.

— Se for para ir, seja homem e avance logo — disse Paul, se apoiando em uma árvore. 

Com um cigarro na boca, notou que todos os alunos estavam olhando para ele. — Percebi estarem perto demais de um cristal arcano, então avancei para prevenir desastres. Mas, se for para avançar, avance sem pensar.

Antony encarou o território pela última vez. Indeciso sobre o que fazer, ele ficou apenas parado, criando coragem para mover um músculo.

— Se fosse em uma luta, já teria morrido. Esse é o problema da indecisão. Se fosse o seu irmão…

Ao ouvir a comparação, Antony pisou no território sem pensar. Criando um escudo de metal se posicionou para proteger a si caso algo ataque. 

O gesto surpreendeu Paul.

— Hum… Não teve nada — comentou Antony.

Em resposta a sua soberba, o cristal arcano liberou um chicote de energia que jogou Antony para longe, amassando facilmente seu escudo de metal.

— Oh… — murmurou Paul. — Então é do tipo energético. Ou não.

Abaixo do cristal, um altar de pedra começou a rachar. 

Raios de energia começaram a se soltar do cristal e, ao entrar em contato com o solo, formas de vida começaram a surgir: asas de rapina, brancas e com um par de chifres gélidos na testa. Uma listra azul cristalino se estendia pela coluna dos animais, formando uma espécie de flecha. As aves crocitaram pela floresta.

— Beleza. São aves albastrons… — comentou Aryna.

— A evolução dos kynigos? — indagou  Rebecca.

A primeira ave fintou contra Ivan. Rebecca criou uma barreira na frente do rapaz, dando brecha para ele recuar. Usando as linhas de alta pressão, Aryna partiu o animal ao meio.

— É uma besta de grau três… — disse Paul, ainda escorado na árvore. — Vocês terão que trabalhar em equipe para matá-los. Não interferirei, meu dever aqui é somente guiar vocês. Mas, caso sejam fracos para correr risco de vida com essas coisinhas, eu ajudo.

— Que professor de merda… — Aryna resmungou para si.

— Tony. Me dá alguma proteção — pediu Ivan.

— Acha que um escudo e uma foice dá certo?

— Qualquer coisa.

— Uma foice então.

Um metal líquido escapou da mão direita de Antony, estendendo-se por quase um metro. O metal formou a base de um cabo que rapidamente se moldou na lâmina de uma foice. O líquido se solidificou, tornando-se um metal resistente. 

Antony jogou a arma para Ivan, que não demorou para avançar contra as aves.

Arrastando a foice do chão para cima, Ivan cortou facilmente uma das aves ao meio. Um bando de albastrons avançaram, encurralando Ivan e Antony. Criando facas de aço, Antony disparou para todas as direções.

Evacuando sorrateiramente, Ivan tentou avançar contra o cristal arcano, no entanto, um chicote de energia o impediu.

— O cristal é concluído por etapas — iniciou Paul. — Existem três fases: a primeira é quando invadem o território do cristal, então ele inicia o contra-ataque. A segunda fase é a que estão agora: onde os mais fracos atacam. E por último: a fase onde o cristal libera toda sua energia acumulada e o antigo dono reencarna.

— Então no próximo ato o cristal invocará seu antigo dono? — indagou Aryna.

— Sim. Sugiro que o ajudem. Só regressaremos quando acabarem por aqui.

— O quê?! Mas isso foi ideia deles! — reclamou Aryna.

— Vocês são uma equipe. Uma equipe assume pelo erro dos demais, não importa o que façam.

— Droga… Espero que vocês morram! — amaldiçoou aos garotos.

Juntando as mãos e separando-as, Aryna disparou um canhão d’água contra os animais. Enquanto o cristal invocava mais aves, Ivan tentou ao máximo matá-los, evitando que tivesse uma empestação.

Criando bastões de metal, finos o suficiente para parecer invisíveis mas tão afiados como uma espada, Antony entrou na luta rasgando algumas aves maiores.

Tentando se aproximar novamente do cristal, Ivan foi lançado para longe por uma ave maior. O predador predominante: uma harpia.

— Um espírito mitológico… — comentou Rebecca após criar uma barreira para salvar Ivan.

— Não vai adiantar… — A harpia pousa em cima de uma pedra. — Sempre que matamos um, o corpo dele desintegra em energia e retorna a vida…

— Não é assim que funciona — contrariou Aryna. — As partículas voltam para o cristal arcano. Com isso, eles se fundem em um único ser mais forte. Toda a força das centenas de pássaros que matamos até agora, criaram essa Harpia.

— Ela está certa — disse Paul. — continuando assim, vocês só estão assinando com a morte. O cristal criará um ser mais forte até que chegue na forma original.

— Temos que achar uma forma de matar essa Harpia sem permitir que ele volte a sua matriz — disse Antony, se alongando.

— E como acha que vamos fazer isso, sabichão?

— Casualidade. Não é, Ivan? — encorajou sorrindo.

— Acho que não é bem assim que ela funciona, mas… Vamos.

— Saudades do loirinho… ele pensava — resmungou Aryna, enquanto os dois já haviam avançado contra a harpia.

— Vem, Aryna. Não podemos perder para homens, lembra?

— Nossa promessa não irá servir se morrermos por causa desses idiotas — retrucou Aryna.

— Às vezes, arriscar a vida pelas conquistas vale a pena. As conquistas mais gratificantes são aquelas que derramamos sangue para conseguir — disse Paul.

— Aquelas que perdemos sangue, não as que morremos.

— Então, Aryna. Você não irá viver muito em Vagus. Futuramente, fracassará como agente.

— E daí? Não estou aqui para impressionar ninguém.

Rebecca deu um tapa no próprio rosto.

— Se você não vai, eu vou. Independentemente.

Cruzando os dedos, Rebecca criou uma barreira para proteger Ivan do avanço da harpia. Antony usou seu bastão de aço para tentar uma estocada, mas a harpia desviou.

— Até que passou perto — resmungou Paul. Notando que seu cigarro acabou, ele jogou o resto no chão. — Já fazem mais de meia hora desde que começaram o desafio arcano… Saudades de quando era tão fácil.

Paul acendeu outro cigarro. 

A harpia, repentinamente, decidiu atacar Aryna, sendo pega de surpresa. Transformando as faíscas do isqueiro em chamas, Paul criou uma barreira flamejante entre a ave e sua aluna. Desfazendo a barreira em direção à harpia, o animal evacuou para trás.

— Se não vai lutar, então pelo menos se mexa.

— Disse o homem que está fumando cigarros enquanto adolescentes tentam matar uma criatura divina — reclamou Aryna.

Indo até o canto de uma árvore e se sentando, Aryna tentou manter uma distância segura do território arcano.

— Alunos dando trabalho? — indagou Amiah, chegando ao lado de Paul.

— Desde quando você… — resmungou Paul.

— Cheguei agora.

— E onde está o loirinho? Com os cocheiros?

Amiah assentiu, apontando para onde os outros alunos estavam. Suspirando, ele disse: — Até alguns minutos ele estava reclamando de dormência nas pernas. Foi só eu falar que vocês estavam em confronto com um cristal arcano que ele teve um pico de energia.

— Como você soube do confronto? — perguntou Paul.

— Várias aves albastrons voando pela floresta. Essa espécie só aparece por invocação humana ou por meio de um cristal arcano. Rastreei vocês e percebi estarem perto da fonte de energia principal, então viemos até aqui.

— Ah, entendi. Não quer ir agora? — Paul perguntou a Aryna. — O loirinho chegou para ajudar vocês…

— Não. Não vejo graça em lutas desnecessárias.

A harpia avançou contra Theo, este contra-atacou desviando por baixo e lançando uma rajada de vento nas costas do animal. 

Antony criou uma espada de aço, leve e fina, tão manuseável que até uma criança conseguiria empunhar. Agarrando firmemente, buscou uma brecha para entregar a espada à Theo, o qual sua primeira ação foi partir um albastron ao meio.

Do outro lado do território, Ivan atacou as aves enquanto Rebecca criava barreiras para protegê-lo. Ao mesmo tempo que Ivan atacava e contornava o cristal, ele e Theo se encontraram e trocaram de lugar: Rebecca passou a proteger Theo, onde Antony passou a dar cobertura para Ivan.

“O padrão…” pensou Theo. “Qual é o padrão…” Avançando para somente um metro do cristal, Theo tentou encostá-lo. Porém, um feixe de luz foi disparado no rosto dele. “Inferno!”

Estando recuado e olhando para o cristal, Theo não percebeu o avanço da harpia. 

Avançando contra o garoto a harpia quase cobriu a cabeça de Theo com suas garras. Sentindo a garra do animal rasgando sua pele, ele enfiou o braço no espaço entre seu rosto e a pata.

Empurrando a harpia para trás, mas, o animal agarrou o braço do garoto e o jogou contra um pequeno morro ao leste, onde uma pequena porcentagem do morro: desde pedras até barro, cairam sobre Theo.

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