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Capítulo 240 – Temos trabalho a fazer

Suada, Safira revirava-se na cama. Um filme cheio de fragmentos passava pela sua cabeça. Ela se via divertindo-se com um grupo de pessoas, dois daquele grupo chamavam atenção.

Um deles era um homem que se parecia com seu mestre, porém, mais jovem. Ao lado dele estava uma mulher. Seu rosto era encantador, com traços delicados e um sorriso que iluminava a sala, revelando seus dentes brancos e perfeitamente alinhados. Seus olhos brilhantes possuíam um tom de verde que combinava perfeitamente com seus cabelos, irradiando alegria e energia positiva.

Sempre quando ela encarava o rapaz, sentia que não precisava mais se preocupar com nada, pois algo dentro dela dizia que aquele homem a protegeria de qualquer coisa.

Seus sonhos a levaram para outro cenário, um em que ela matava todas as pessoas que estavam se divertindo com ela, e o mesmo homem que ela admirava estava furioso.

— Desculpa… — balbuciou enquanto dormia. — Por favor, desculpa, senhor Colin…

Ela abriu os olhos e foi como se tivesse emergido. Sua respiração estava ofegante e como já havia acontecido antes, ela estava chorando.

— Pesadelos novamente? — indagou a Pixie sentada no chão frente a lareira. — Quem é esse Colin que você tanto chama enquanto dorme?

Safira limpou as lagrimas com as costas da mão e sentou-se na cama, apoiando a mão no lado esquerdo do peito.

— Eu não sei…

— Deve ser alguém importante para você chamar o nome dele toda noite.

Ela ergueu-se ainda com os lábios franzidos e semblante abatido.

— Ele se parece com mestre Coen.

— Já falou isso com ele?

— Não…

— Pois você devi-

Ambas ficaram em silêncio e usaram a análise.

— Há alguém lá fora.

A análise avançada de Safira dava a ela certa vantagem. Conseguia ver através das paredes de madeira, como uma visão de raio-X. Ela conhecia a pessoa que estava à espreita.

— Tsc…

Caminhou até a porta e a abriu, vendo o garoto que conheceu ontem escondido atrás dos pinheiros cobertos por neve.

Safira franziu o cenho e apoiou uma das mãos na cintura.

— Estou vendo você.

Os galhos estalaram e o garoto saiu do meio deles. Estava com uma mochila pendurada com uma alça no ombro e ainda estava coberto por uma capa escura de pano grosso que o ajudava a se proteger do frio.

Ele jogou o capuz para trás, mostrando seu cabelo escuro e bagunçado. Ergueu as mãos em rendição e forçou um sorriso.

— E-Eu sou o rapaz de ontem, lembra de mim? — Safira continuava o encarando com o cenho franzido — O-Olha! — Ele abaixou as mãos e as enfiou na bolsa, retirando uma marmita de madeira. — Tenho comida, está com fome? Fiz hoje de manhã. Coelho, arroz e um pouco de batata cozida. — Ele fez um movimento com as mãos, oferecendo a marmita. — Quer?

— Como me achou?

— Ah… o rastro de mana que deixou…

— Tsc!

— Não precisa se preocupar — disse a Pixie em seu ombro — Apagar o rastro de mana é bem difícil, até para seres como eu.

Safira estava considerando dispensar o garoto, mas ela estava faminta.

— Entra e não toque em nada.

Os olhos dele brilharam e ele adentrou o aconchegante chalé. Sentiu o cheiro de lenha queimando na lareira e viu o interior decorado com objetos de madeira esculpidos à mão. Havia uma cama perto da lareira, uma mesa de madeira ao fundo com duas cadeiras.

— Pode ir para a mesa.

O garoto obedeceu. Sentou-se na cadeira e ficou ali com a marmita em mãos. Safira tirou o casaco e jogou em cima da cama. Sua camisa de lã escura desenhava as curvas de seu corpo malhado. A visão do garoto concentrou nas costas dela e desceu, até que ele desviou o olhar envergonhado.

— Deixa eu ver — ela sentou-se à mesa e o garoto entregou nas mãos dela a marmita.

A marmita era simples, mas encantava pelo aroma delicioso que emanava. O arroz, cozido no ponto exato, era solto e branco, com grãos levemente separados. Ao lado do arroz, estava uma porção generosa de batatas macias e suculentas, cozidas até a perfeição, com casca fina e uma textura cremosa no interior. A combinação de arroz e batatas oferecia um contraste sutil, mas agradável, entre a leveza do arroz e a textura mais densa das batatas.

No centro da marmita, um coelho frito com pele crocante e dourada, revelava a carne tenra e suculenta por dentro. O coelho era cortado em pedaços, apresentando-se em porções ideais para uma refeição saudável e satisfatória. Os temperos eram delicados, realçando o sabor natural da carne e acentuando sua textura suculenta e macia.

O conjunto era visualmente atraente, com as cores do arroz e da batata contrastando com a pele crocante e dourada do coelho frito. O aroma também era agradável e estimulante, fazendo com que o apetite crescesse instantaneamente.

Safira usou a análise tentando encontrar substâncias venenosas ou algo do tipo.

— O cheiro está bom, você que fez?

— Ah, sim! Cozinhar é uma das minhas especialidades — ele enfiou as mãos na bolsa, retirando garfo e faca. — Aqui, pode comer à vontade!

Com o garfo, ela misturou a comida e parou, encarando o garoto novamente.

— Não vai comer?

— N-Não, já tomei café da manhã.

A Pixie estava de pé em cima da mesa, encarando a comida. Com o indicador, ela fez parte da comida levitar e ser cortada em minúsculos pedaços, pequenos o suficiente para ela mastigar.

Era possível sentir a textura, o sabor e o aroma, que despertavam uma sensação única de prazer e satisfação.

— O garoto é bom — disse a pandoriana de boca cheia.

— O-Obrigado! — Coçou a nuca sem jeito.

Foi a vez de Safira mastigar e sentir aquele gosto incrível.

— É está realmente bom — ela o encarou no fundo dos olhos. — Você se chama Eden, certo?

— Si-Sim! — ele estava surpreso por ela lembrar seu nome — Sou de Ultan, ou era… — Eden desviou o olhar e cerrou os punhos em cima de sua coxa. — Minha família e eu morávamos há algumas horas da antiga capital. Fomos até lá para vender nossos produtos durante o grande torneio de guildas, meu pai era artesão e…

Safira continuou em silêncio, apenas ouvindo.

O garoto forçou um sorriso, afastando os pensamentos sombrios.

— E a senhorita, como se chama?

— Safira, essa é Nix — A pandoriana abriu um sorriso simpático. — Você foi corajoso salvando aquele senhor e seu neto.

— Ah, obrigado! — coçou a nuca. — A senhorita também foi muito corajosa, nunca vi ninguém vencer um dragão tão fácil, quer dizer, nunca vi ninguém vencer um dragão! A senhorita é a pessoa mais forte que já vi!

Safira abriu um sorriso de canto convencido.

— Existem pessoas bem mais fortes que eu.

— Sério?

— Sim, a própria Nix aqui é uma prova disso.

— Uau… — Foi a vez de Nix abrir um sorriso convencido — A senhorita parece ser bem nova, quantos anos tem, claro… se não se importar em dizer…

Safira abanou uma das mãos — Tudo bem, tenho dezessete, e você?

Os olhos dele arregalaram-se.

— Dezessete e tem toda essa força? Nossa… E-Eu tenho quinze.

— Ainda é só um garoto. O que estava fazendo na floresta?

— Estava procurando ingredientes.

— E conseguiu encontrar?

Ele assentiu com um sorriso.

— Consegui. Posso fazer outra pergunta?

— Vá em frente.

— A senhorita é uma Tiefling, certo?

— Isso — Safira levou o garfo a boca.

— Nossa… Não tem muitos Tieflings por aí.

Terminando de comer, Safira fechou a marmita e entregou ao garoto com um sorriso no rosto.

— Obrigada pela refeição, estava ótima!

Assim que botou os olhos naquele sorriso, o coração de Eden começou a disparar e ele corou levemente. Desviou o olhar, pegou a marmita vazia e devolveu-a a bolsa.

— Devia ir para casa antes da nevasca começar — disse Safira se erguendo. — Ou vai acabar ficar preso aqui comigo.

— Preso com a senhorita? — suas bochechas enrubesceram — E-Eu já estou de partida! — Eden curvou o corpo em agradecimento — O-Obrigado pela companhia, e por ter matado aqueles dois dragões!

Safira deu um passo à frente. Esticou o braço e afagou o cabelo escuro do garoto.

— Por nada, cuidado lá fora e se encontrar algum dragão, basta me chamar, tá bom?

Ver o sorriso dela fez seu coração acelerar-se novamente, ainda mais rápido, mas seu sorriso se desfez quando sentiu uma pressão esmagadora.

Scrash!

O espaço rachou e estilhaçou-se.

Um homem moreno de cabelo cumprido e bem agasalhado estava ali, de pé, há alguns metros deles. Safira virou-se de costas, e Eden conjurou sua lâmina de vácuo enquanto suor seco escorreu por sua têmpora.

Seu coração estava acelerado, seu corpo tremia, sentia falta de ar e seus pensamentos estavam confusos.

O garoto sentia-se paralisado, sem saber como agir ou o que dizer, em seu corpo estava cravada a sensação de que estava em perigo iminente. Era aterrorizante aquela sensação de impotência, vulnerabilidade e insegurança.

— Hora de voltar — disse Coen com as mãos nos bolsos. — Temos trabalho a fazer.

Safira suspirou e caminhou até a cama, trajando o seu casaco.

— Que tipo de missão? — indagou abotoando o casaco. — Pensei que o senhor não fosse agir tão cedo.

— Também não — ele cruzou olhar com Eden. — Amigo seu?

— Um conhecido. Ele cozinhou para mim.

— Entendi.

Safira caminhou até o portal e tergiversou, encarando o garoto que continuava apavorado.

— Adeus, Eden, se cuida!

— Continue cozinhando — disse a Pixie. — Você tem futuro nisso!

Ambas adentraram o portal e Coen adentrou por último.

A rachadura no ar desapareceu e Eden bateu um dos joelhos no chão. Suas pernas estavam trêmulas, e mesmo com todo aquele frio, ele suou.

Em menos de algumas horas, ele sentiu uma mana capaz de subjugar a de Safira, e aquilo o deixou apavorado. Perguntou-se quem de fato eram aqueles dois.

Safira havia desaparecido sem deixar rastros, deixando Eden cheio de perguntas que provavelmente jamais seriam respondidas.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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