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Capítulo 03 – Resolução

“A verdadeira força não está na ausência de fraqueza, mas na capacidade de enfrentar e superar os próprios medos. A persistência é o que permite essa transformação.”
O Código do Guerreiro Solitário, Verso 5.

Lei-da-For-a


Antes de Sérgio Romanov interromper a conversa, Thalassa estava prestes a revelar o plano que havia elaborado para Harley. No entanto, a chegada intempestiva do filho do líder do clã frustrou seus esforços. 

Mesmo assim, o jovem sabia que não poderia mais depender apenas dos conselhos e das travessuras de Thalassa. Ele sentia que o tempo para agir estava se esgotando e que precisava traçar seu próprio caminho.

Ele estava determinado a se tornar um Kamikaze, mesmo sabendo das possibilidade mínima de sucesso ao enfrentar a neblina em um desafio mortal. 

Determinou-se a se tornar um Kamikaze, ciente de que as chances de sucesso ao enfrentar a neblina eram mínimas e de que o desafio poderia ser mortal. 

Harley acreditava que, se pudesse superar essa provação, teria a oportunidade de explorar novos conhecimentos e mundos que se ocultavam além do horizonte, em vez de permanecer preso a uma existência vazia dentro do Clã Dragões de Sangue. 

Ele entendia que nada na vida era fácil ou isento de riscos; quanto maior o objetivo, maiores os desafios e os perigos que se enfrentam.

O jovem sabia que essa decisão o afastaria da biblioteca, seu santuário de conhecimento, e da companhia de Thalassa, com suas brincadeiras e peças, mas também sabia que era hora de seguir em frente. 

Harley reconhecia a necessidade de perseguir seus desejos e aspirações, compreendendo que permanecer na biblioteca não lhe ofereceria mais crescimento ou aprendizado significativo.

Gradualmente, ele começou a enxergar a biblioteca como uma prisão em que ele mesmo havia se deixado envolver, quase se apegando a ela por comodidade. No entanto, um pensamento persistente invadia sua mente: 

“Como superar a intransponível neblina? Como explorar o desconhecido e descobrir o que há além deste lugar?”

As duas prisões, seja no seu antigo clã ou no Clã Dragões de Sangue, o tinham alienado em relação ao mundo exterior e aos outros possíveis destinos. O conhecimento comum era que a neblina era intransponível, mas existiam lendas, existiam relatos e sua intuição lhe dizia que esse conhecimento está errado. 

Harley não conhecia nada além das fronteiras que lhe foram impostas, e nem mesmo a biblioteca oferecia informações que pudessem libertá-lo. Os mapas e conhecimentos que ele mais desejava eram considerados segredos de segurança máxima, guardados e restritos.

Resoluto em romper com o passado e alcançar seu objetivo, o jovem chegou a uma conclusão inescapável: o sofrimento e as humilhações que havia suportado eram uma constante. 

Agora, ele tinha uma escolha definitiva: continuar se escondendo na sombra do medo ou arriscar tudo em busca de uma nova realidade, por mais ameaçadora que fosse. Com clareza dolorosa, percebeu que era melhor se agarrar a qualquer faísca de vida do que continuar existindo como um morto-vivo.

Com essa nova mentalidade, Harley decidiu buscar a autorização do líder do Clã Dragões de Sangue para participar da prova que selecionaria os candidatos a Kamikaze. 

Ele sabia que essa oportunidade representava uma chance única de explorar novos territórios e expandir sua compreensão do mundo além dos limites da sua prisão. Era uma oportunidade rara de se libertar, desafiar suas próprias limitações e se aproximar da neblina intransponível. 

No entanto, mesmo ciente das inúmeras obrigações e restrições que pesavam sobre ele, Harley se deparou com a dura realidade de sua insignificância no contexto do clã. 

Essa percepção era refletida na sua escassa compreensão do lugar que agora deveria chamar de lar. Era como se ele fosse uma sombra na periferia, ignorado e sem vontade de se integrar ao todo. 

Determinando-se a seguir adiante, Harley se dirigiu à entrada do salão do líder do clã. Quando solicitou uma audiência, foi prontamente recebido com uma resposta desanimadora.

— Não! — disse um discípulo faixa preta, servindo como primeira linha de defesa e intermediário para acesso ao líder do clã.

O homem, que parecia estar nos seus 30 anos, empunhava uma lança afiada. Ele tinha uma estatura imponente, ultrapassando 1,90 metros de altura, o que o tornava intimidante diante de qualquer interlocutor. 

Vestia uma túnica longa e elegante, feita de seda negra, adornada com intrincados padrões dourados que reluziam sob a luz. Seu cabelo, normalmente negro e brilhante, era mantido em um coque cuidadosamente arranjado, e seus olhos eram penetrantes, como se avaliassem constantemente os que se aproximavam em busca de audiência com o líder.

A negativa pegou Harley de surpresa, deixando-o momentaneamente paralisado. Ele não esperava ser rejeitado tão rapidamente por um intermediário que parecia estar tão distante do líder.

Diante da recusa, uma onda de frustração e desânimo invadiu o jovem. No entanto, em vez de permitir que essas emoções o dominassem, ele fechou os olhos e se concentrou em controlar sua fera interna. 

Sentiu o calor pulsante de sua raiva tentando emergir, mas, com uma determinação feroz, trancou esses sentimentos no fundo de sua alma. Cada respiração tornou-se um exercício de domínio próprio, uma batalha contra os impulsos selvagens que lutavam para se libertar.

Harley sabia que ceder à violência só o afastaria de seus objetivos. Então, com a mandíbula cerrada e os punhos firmemente fechados, ele prometeu a si mesmo que não permitiria que sua fera interior o controlasse.

A primeira rejeição não o desanimou. Ele havia desenvolvido uma persistência inabalável ao longo dos anos de desafios e provações. Agora, mais do que nunca, o jovem Ginsu estava mais controlado do que antes, conseguindo manter sua fera interna sob controle. 

Durante seus anos no clã, ele perdera a noção clara do tempo, mas aprendera novas maneiras de resolver problemas, vendo cada desafio como um teste a ser superado. Harley queria provar para si mesmo que poderia empregar estratégias e recursos além da força e da violência.

Embora fosse um desafio árduo, ele tinha um objetivo claro: encontrar uma brecha ou uma oportunidade para conseguir a autorização necessária para participar da competição. No entanto, o guarda que bloqueava seu caminho parecia ter um talento especial para a teatralidade. 

Com uma firmeza desmotivadora, o guarda barrava cada tentativa, suas ações coreografadas como uma performance dramática. Ele erguia um dedo acusador, adicionando um toque de exagero que tornava a situação ainda mais frustrante.

Apesar disso, Harley não se deixava abater. Ele sabia que a persistência era sua melhor aliada e que, em algum momento, uma oportunidade se apresentaria. A cada encontro com o guarda, ele analisava cuidadosamente suas reações e padrões de comportamento, procurando por qualquer sinal de fraqueza ou hesitação que pudesse explorar. 

O guarda, com seu dedo sempre em riste e a expressão teatral de desdém, não percebia que, a cada encontro, estava aprendendo. Aprendendo a se controlar, a refinar sua abordagem, a buscar soluções além do mero confronto. 

Para Harley, essa era mais uma prova de sua evolução, de sua capacidade de adaptação e superação de obstáculos de maneira mais sutil.

O jovem estava determinado a provar que podia transcender o passado violento que o definira por tanto tempo. Essa nova abordagem não era apenas um meio para alcançar seu objetivo imediato, mas também uma afirmação de seu crescimento pessoal. 

Ele precisava mostrar, principalmente para si mesmo, que era capaz de usar mais do que apenas a força para vencer seus desafios.

Os dias passaram, e Harley persistiu, controlando sua frustração e continuando sua busca para obter uma audiência com o líder do clã. A primeira linha de defesa continuava a barrá-lo rotineiramente, mas sua determinação só crescia a cada tentativa frustrada.

Mesmo após anos no Clã Dragões de Sangue, observando e aprendendo sobre a interação humana, era extremamente difícil para ele conceber ou implementar estratégias diferentes do uso da força para alcançar seus objetivos. 

No entanto, determinado a conseguir a autorização, ele resolveu adotar uma abordagem mais sutil e estratégica. Harley começou uma campanha de atrito constante. Dia após dia, ele se aproximava do discípulo encarregado de bloquear seu acesso ao líder do clã.

Ele utilizava cada interação como uma oportunidade para ganhar a confiança do discípulo, iniciando conversas casuais, oferecendo ajuda em tarefas cotidianas e mostrando interesse genuíno nas preocupações e aspirações do jovem. 

Cada gesto, cada palavra, era cuidadosamente calculado para minar a resistência do discípulo e criar uma abertura. Ele sabia que essa era uma tática que exigia paciência e controle, algo que ele havia aprendido a cultivar, mesmo que de maneira dolorosa, ao longo de sua vida no clã que o aprisionara.

O esforço constante começava a mostrar resultados. O discípulo, inicialmente desconfiado e resistente, começava a baixar a guarda, respondendo com menos hostilidade e mais abertura. 

Harley percebia as pequenas vitórias e as utilizava para reforçar sua posição, construindo lentamente uma relação de confiança. Cada passo nesse processo era uma prova de sua capacidade de controlar sua fera interna e utilizar a inteligência estratégica que vinha desenvolvendo.

A frustração que sentia ao não conseguir a audiência direta com o líder do clã ainda fervia sob a superfície, mas ele transformava essa frustração em determinação, mantendo sua fera interna sob controle. 

A violência e o ódio, que antes eram suas respostas automáticas, agora eram ferramentas guardadas, prontas para serem usadas apenas em última instância. O jovem Ginsu estava descobrindo que a paciência e a estratégia poderiam ser tão eficazes quanto a força bruta, e que seu verdadeiro poder residia na capacidade de controlar seus próprios impulsos destrutivos.

Apesar de todas as dificuldades e da tentação de pedir ajuda a Thalassa, Harley permanecia firme em sua decisão de conquistar essa vitória por seus próprios meios.

Então, em um dia inesperado, antes que ele tentasse uma nova abordagem, o discípulo finalmente cedeu:

— Apresse-se. Basta estar no centro da praça hoje para obter o direito de disputar uma vaga para Kamikaze.

Atordoado, o jovem Ginsu pareceu perder um pouco da compostura, pois nunca esperava que seria tão fácil obter um lugar na disputa para Kamikazes. Ele já havia desistido de prever quanto tempo levaria para passar pelas inúmeras barreiras intermediárias até chegar ao líder do clã.

— Mas… Por que não disse isso antes? — perguntou Harley, perplexo.

— E perder a diversão e a criatividade de cada tentativa frustrada, sem falar nas suas expressões de desânimo na saída? — respondeu o discípulo, com um sorriso que revelava um lado mais descontraído.

O jovem, com a expressão carregada, percebeu mais uma vez ter caído em uma armadilha ardilosa, lamentando o tempo desperdiçado em esforços vãos. As lembranças das artimanhas de Thalassa inundaram sua mente.

Para o guarda e, talvez, até para sua amiga, esses encontros eram demonstrações de superioridade, uma maneira de rebaixá-lo e mostrar sua facilidade de manipulação. 

No entanto, para Harley, esses momentos representavam o ápice de uma forma peculiar de contato humano, algo que ele nunca experimentara antes. Talvez por isso fosse tão fácil enganá-lo.

Em toda a sua vida até aquele momento, ninguém jamais cuidara dele, acalentara seu sono ou demonstrara compaixão por suas dores. Sua jornada no clã Dragões de Sangue era permeada por descaso, dor e tortura.

Com um gosto amargo de frustração, ele saiu correndo em direção ao centro da praça, tentando esquecer suas últimas ações sem sentido e se alegrar por finalmente ter uma chance de provar seu valor e disputar uma vaga como Kamikaze. Sabia que aquela era uma oportunidade única para redefinir sua vida e talvez encontrar a liberdade que tanto ansiava.

ANEXO:

Lei-da-For-a
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Olá, eu sou Val Ferri Sant. Ana!

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