Selecione o tipo de erro abaixo

“A determinação é o fogo que forja a adaga do guerreiro. Os mistérios da floresta são as provas que testam a força dessa lâmina.”
O Código do Guerreiro Solitário, Verso 1.

capitulo-4


A vegetação densa era um emaranhado caótico de espinhos, um mar revolto de agulhas afiadas que pareciam pulsar com intenções sombrias. Harley corria por uma trilha estreita, cercado por pontas afiadas que surgiam de todos os lados, tornando impossível sair ileso de seus cortes. 

Elas emergiam do chão como estacas famintas, escondiam-se entre caules grotescos e flores deformadas, enrolando-se nos troncos das árvores como serpentes traiçoeiras. O ambiente ao redor parecia estar vivo, sussurrando promessas de dor. 

Cada passo que ele dava aumentava os riscos de ferimentos e os encontros inevitáveis com seus adversários. Ele sabia que a prova poderia durar um dia inteiro ou mais para atravessar a Floresta de Espinhos, e cada minuto perdido poderia ser crucial na linha tênue entre sobrevivência e tragédia. 

Sentia o suor escorrendo por seu rosto, misturando-se ao sangue que pingava de pequenos cortes em sua pele, enquanto tentava manter o ritmo, com cada respiração sendo um esforço para conter o cansaço crescente.

Atrás dele, três competidores o perseguiam de perto, seus pés batendo no chão com uma cadência caótica. O som das respirações ofegantes ecoava pela floresta, misturando-se ao som sinistro dos espinhos rasgando carne e galhos se quebrando sob o peso dos corredores. 

Era mais do que uma corrida, era uma caçada. Num momento de descuido, ele olhou por sobre o ombro, tentando antecipar os próximos passos dos seus perseguidores. 

Foi nesse instante que um dos competidores aproveitou a oportunidade, avançando com um movimento rápido. O agressor agarrou sua mochila e a puxou com força brutal, derrubando-o ao chão com um baque seco.

— Sai do caminho, inútil! — gritou o agressor, sua voz expondo um prazer sádico, seguido de perto por seus comparsas.

— Devia ter ficado na biblioteca! — zombou outro, sua risada ecoando pela trilha estreita da floresta.

— Aqui, só a dor ou a morte te esperam! — acrescentou o terceiro, com um sorriso cruel.

Caiu pesadamente, a poeira subindo intensamente ao seu redor. O impacto o atordoou, uma onda de dor irradiando por todo o seu corpo. 

Antes que pudesse se recuperar, seus adversários passaram por cima dele, pisoteando-o sem piedade, como se ele fosse apenas um obstáculo insignificante em suas buscas frenéticas pela vitória. Era uma lembrança brutal da selvageria da prova, onde a empatia não existia.

Sentindo o gosto amargo e metálico do sangue misturado com terra na boca e a dor latejando por todo o corpo, ergueu-se com dificuldade, sacudindo a poeira das roupas. Durante muito tempo, ele havia suprimido sua fera interior — aquela parte selvagem de si mesmo que ansiava por lutar até o último suspiro.

Motivado pela sobrevivência no Clã Dragão de Sangue e determinado a dominar novos modos de agir, dedicou-se a controlar sua agressividade instintiva, acreditando que só assim poderia equilibrar seus impulsos e se tornar mais estratégico. No entanto, os eventos recentes expuseram sua vulnerabilidade. 

O longo tempo contendo constantemente sua natureza feroz o deixara mais lento, menos incisivo em momentos críticos. Essa hesitação quase custou sua vida.

Respirando fundo, tomou uma decisão. Não mais reprimiria completamente a fera que existia dentro dele. Era hora de encontrar o equilíbrio entre o controle e a selvageria. Com uma força renovada que surgia das profundezas de sua alma, forçou-se a voltar a correr, permitindo-se usar aquela agressividade contida de forma direcionada, canalizando-a para sobreviver e triunfar, sem perder o controle absoluto de sua mente. 

A dor e o cansaço ainda estavam lá, mas agora eram como combustível, incendiando sua determinação. Agora, ele estava pronto para o que viesse.

A corrida estava apenas no início, e ele não permitiria que um incidente momentâneo o detivesse. Aumentou a velocidade, sua mente trabalhando freneticamente para analisar e escolher o melhor caminho a seguir. 

Cada decisão era tomada em frações de segundo, pois nesta disputa, a rapidez era tudo. Saltava sobre espinhos que surgiam de repente, desviava de armadilhas naturais ou criadas pelos competidores e mantinha os olhos fixos no caminho à frente, determinado a não ser surpreendido novamente.

A Floresta de Espinhos se espalhava vastamente, como se quisesse engolir tudo ao seu redor. Era um campo de batalha vivo, observando cada movimento dos competidores. A trilha serpenteava entre árvores e arbustos traiçoeiros, cada curva ocultando novos perigos. 

A cada salto e desvio, Harley sentia a adrenalina percorrendo suas veias, seu corpo começando a responder com antigos reflexos. Em certo ponto, alcançou outro competidor, encontrando-se ombro a ombro em uma corrida acirrada. 

Era uma batalha de força, onde cada um tentava empurrar o outro para fora da trilha, usando os ombros e cotovelos para desviar a trajetória e ganhar vantagem.

A tensão entre eles era tangível, ambos sabiam que não havia espaço para o fracasso.

Os dois corriam lado a lado, seus corpos se chocando violentamente em uma disputa feroz pela supremacia. Cada músculo estava tensionado ao máximo, enquanto mantinham o ritmo frenético. Percebeu que seu adversário estava preparando um golpe decisivo. 

Sentiu a leve mudança na pressão do corpo ao lado e se preparou para reagir, cada nervo em alerta máximo. Era como um duelo sem palavras, onde o destino dependia de um único movimento.

Com um movimento rápido, aproveitando a investida do oponente, usou a própria força dele contra ele. Ele realizou dois movimentos fluidos: primeiro, um semicírculo com o próprio corpo, e depois um empurrão decisivo que desequilibrou o oponente. 

A manobra o colocou estrategicamente do outro lado do competidor, que, sem encontrar resistência, foi lançado para fora da trilha. O impacto foi brutal, o som de carne rasgando e ossos se quebrando enquanto o adversário era lançado nos espinhos afiados e se chocava contra pedregulhos, desaparecendo na densa vegetação. 

Os gritos de agonia foram engolidos pela floresta, como se ela se alimentasse da dor dos derrotados.

Com um olhar frio, deixou para trás o adversário e continuou sua corrida. Cada passo o aproximava mais de seu objetivo, e estava determinado a superar todos os desafios que a Floresta de Espinhos lançava contra ele. Com cada adversário derrotado, Harley se aproximava mais de sua verdadeira natureza.

A floresta parecia reagir à sua determinação. As lanças vegetais se moviam mais rápido, como se pudessem antecipar seus movimentos, uma inteligência silenciosa nascida do próprio terreno. 

As árvores fechavam suas copas acima dele, mergulhando a trilha em uma penumbra inquietante. Não era apenas a vegetação se fechando, era ele que estava mais rápido, cada fibra do seu corpo respondendo ao instinto de sobrevivência.

Ao longe, o som de passos e gritos indicava que outros competidores ainda estavam na corrida. Mas Harley não tinha tempo para pensar neles. Cada segundo era um presente fugaz, e a floresta não perdoava distrações.

De repente, um movimento à sua direita chamou sua atenção. Um competidor surgiu, os olhos fixos e a lâmina pronta para matar. Harley, movendo-se por puro instinto, rolou no chão antes que a faca o atingisse. Levantou-se com um salto, preparado para o próximo golpe. 

O atacante, agora desequilibrado, balançou a lâmina novamente, mas Harley já estava pronto. Ele agarrou o pulso do oponente com força feroz, torcendo-o até ouvir o estalo seco de ossos se partindo. O grito de dor ecoou na floresta, mas Harley não hesitou. Sem piedade, empurrou o competidor para longe, atirando-o contra um grupo de espinhos que parecia estar à espreita, faminto por sua próxima vítima.

— Desculpe, mas não tenho tempo para isso — murmurou, mais para si mesmo do que para o adversário. 

Sabia que não podia parar. A Floresta de Espinhos se projetava à frente, imensa e implacável, sem revelar seu fim. A trilha diante dele se estreitava, transformando-se em um túnel de vegetação densa. Cada espinho que pendia das árvores parecia balançar como pêndulos cortantes, desafiando-o a errar. Harley não erraria.

Saltou, desviou, contorceu-se por entre os obstáculos, seus reflexos perfeitamente sintonizados com o ambiente hostil. A floresta era sua casa, e ele era uma fera selvagem em seu território. 

Cada movimento calculado, cada desvio preciso. Seus sentidos, aguçados pela tensão, captavam até o farfalhar distante de folhas e galhos se quebrando. Outros competidores se aproximavam, mas Harley não olhava para trás. Não agora. O tempo era precioso demais.

A trilha descia abruptamente, um declive acentuado coberto de pedras soltas e raízes retorcidas. Harley ajustou sua postura, inclinando-se para a frente, deixando a gravidade ajudá-lo a ganhar mais velocidade. 

Seus pés mal tocavam o chão enquanto ele corria, cada passo no limite entre o controle e o desastre. Sabia que uma queda aqui seria fatal. Não apenas o fim da corrida, mas o fim de tudo.

De repente, a trilha se abriu em uma clareira, um santuário temporário no meio do caos. No centro, uma árvore colossal, com galhos estendendo-se como braços protetores. Harley sabia que esse ponto era crucial, um lugar onde competidores exaustos faziam pausas, mas onde também ocorriam emboscadas brutais. O caos pairava no ar.

Ele parou por um instante, os olhos varrendo a área. Decisões precisavam ser rápidas. Continuar sem parar poderia exauri-lo antes do final. Parar para descansar poderia significar sua morte. 

Um galho se quebrou atrás dele. Harley se virou rapidamente, apenas para ver dois competidores emergindo das sombras da floresta. Seus rostos estavam marcados pela brutalidade da corrida.

— Parece que teremos companhia — murmurou Harley para si mesmo, suas mãos cerrando-se em punhos. Ele sentiu a fera interior despertar, rosnando de expectativa. A violência estava iminente.

Sem aviso, os competidores avançaram. Um deles empunhava uma vara improvisada; o outro, uma pedra afiada. Harley esperou, calculando, até o último momento antes de se mover. Desviou da vara com um giro ágil, bloqueando o golpe da pedra com seu antebraço. 

A dor explodiu em seu braço, mas ele ignorou, movido pela necessidade de sobreviver. Agarrou o braço do atacante e puxou-o para frente, usando o próprio impulso do homem contra ele.

O competidor tropeçou e caiu direto nos espinhos que circundavam a clareira. Um grito de agonia cortou o silêncio, enquanto os espinhos se enrolavam ao redor do corpo dele, como serpentes implacáveis. O outro competidor hesitou por um segundo, sua confiança vacilando ao ver o destino de seu parceiro.

Harley não deu tempo para arrependimentos. Avançou com uma rapidez impressionante, acertando um soco direto no estômago do oponente. O homem se contorceu de dor, soltando a pedra enquanto lutava para respirar. Harley o empurrou com força, fazendo-o despencar pesadamente no chão.

Com os adversários fora do caminho, Harley retomou sua corrida através da Floresta de Espinhos. A escuridão se tornava sua aliada, escondendo-o dos olhos famintos de seus inimigos e oferecendo a cobertura necessária para que pudesse avançar, invisível, letal.

Picture of Olá, eu sou Val Ferri Sant. Ana!

Olá, eu sou Val Ferri Sant. Ana!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥