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“O dragão, símbolo da fúria primordial, é um lembrete de que algumas forças não podem ser contidas, apenas respeitadas e enfrentadas com coragem.”

Discursos do Grande Explorador Zandar, Vol. das Feras Aladas.


O retumbante rugido da fera ecoou como um trovão furioso na vastidão do deserto. Com um mergulho colérico, o dragão dilacerou impiedosamente a superfície das areias, dando origem a um redemoinho caótico de grãos dourados que se dispersavam pelo ar. 

Suas garras afiadas, em um ataque devastador, passaram perigosamente próximo a Harley em direção ao mago. Este, em um movimento ágil, desviou-se por meros milímetros, encontrando refúgio no único lugar incólume diante da trajetória da destruição iminente.

O estrondo do ataque reverberou pelo deserto, enquanto as areias se agitavam em resposta à presença majestosa da criatura alada.

Cedir Marsetta havia executado um movimento aparentemente impossível de antecipar, com todo o corpo do dragão envolvido em seu furioso ataque. Era uma mistura intrigante de sorte e astúcia, mais uma demonstração da perspicácia do mago. 

Mesmo com o espirro de areia atingindo seu corpo, ficava evidente que sua habilidade não se limitava à agilidade de reação, mas sim a uma excepcional capacidade de antecipar trajetórias e movimentos. 

Sua decisão, embasada na análise da probabilidade mais alta de sucesso, resplandecia como um testemunho da maestria que possuía sobre as intrincadas danças do campo de batalha. 

Harley, mesmo reconhecendo sua agilidade, sabia intimamente que não escaparia dessa situação, a menos que conhecesse antecipadamente a trajetória e todos os movimentos empregados pela fera neste ataque devastador.

O olhar atônito do jovem fixou-se na magnitude da criatura que se erguia diante dele. O primeiro ataque do dragão foi tão súbito que ele mal teve tempo de reagir, percebendo aliviado que não era o alvo direto da fúria da besta. No entanto, a gravidade da situação envolvia uma criatura de proporções incomparáveis, dotada de uma força que desafiava toda a compreensão.

O dragão, após seu primeiro ataque, voltou aos céus e mergulhou novamente, suas garras balançando horizontalmente com uma gana mortal. A garra da direita cortava em direção ao lado esquerdo, curvando-se de maneira fluida antes de retornar, enquanto a garra oposta movia-se em sentido contrário, produzindo dois cortes distintos com cada investida. 

Cedir, mais uma vez, em certo momento pulou para o lado em uma nova parte do deserto desviando-se por milímetros novamente. A flexibilidade das garras permitia ao dragão, alterar a trajetória de corte, mas o imenso corpo da fera, uma vez projetado, não conseguia realizar mudanças abruptas em sua rota, proporcionando uma oportunidade minúscula para o hábil mago esquivar-se da destruição iminente.

As garras do dragão esculpiram outro pequeno abismo na paisagem árida, lançando areia em todas as direções como uma chuva dourada e resplandecente. As asas da criatura alada se estenderam, eclipsando o sol, e uma aura de calor intenso irradiava de seu corpo escamoso. 

O dragão, após permanecer em solo após o ataque, preparava-se para um novo assalto, com sua boca exalando chamas e seus olhos fixos no velho desafortunado diante de sua fúria. 

Sua imponência se destacava enquanto o calor emanava de suas escamas, pintadas pelas chamas dançantes que ardiam em sua garganta. O rugido de desafio ecoava, preenchendo o deserto com uma aura ameaçadora enquanto o dragão se preparava para mais uma investida.

Harley, distante após o salto esquivo inicial do velho, decidiu fazer sua parte nesta batalha. Ele percebeu que permanecer imóvel não era uma opção, já que a criatura não hesitaria em atacar indiscriminadamente. Além disso, fugir de um dragão veloz ou se esconder nas vastas extensões do deserto se mostrava uma tarefa impossível.

Armado com sua adaga, ele atacou o dragão pelas costas. No entanto, para sua surpresa, as lâminas pareceram ter pouco impacto sobre a resistência do dragão, como se suas escamas fossem impenetráveis. Enquanto persistia em seus esforços, o dragão manteve seu foco exclusivamente em Cedir, aparentemente ignorando os ataques do jovem.

O velho se aproximou instantaneamente de Harley, segurando seu braço com firmeza. Com a outra mão, ativou seu anel, desencadeando um raio de energia direcionado ao dragão. O impacto do raio não só afetou a criatura alada, mas também gerou uma força de impulsão surpreendente.

Os dois foram lançados a uma distância considerável, viajando através do espaço e acima do solo desértico até chegarem a uma região completamente. Ali, depararam-se com formações geológicas únicas, esculpidas ao longo dos milênios pelo calor implacável do deserto e os minérios do subsolo. 

As estruturas espaciais retorcidas formavam padrões visuais desconexos e desconcertantes, assemelhando-se a cortes feitos por uma lâmina em uma harmonia caótica.

Um suspiro de alívio escapou dos lábios de Harley quando percebeu que o dragão havia ficado para trás, distante o suficiente  para não representar mais uma ameaça iminente.

O novo ambiente, repleto de formações minerais peculiares, provou ser uma barreira intransponível para a besta furiosa. Era como se tivessem adentrado um refúgio seguro, onde a ira do dragão não poderia mais alcançá-los. 

Ao avançarem, os dois foram envolvidos por uma escuridão impenetrável que parecia se estender em direção às profundezas do subsolo. Essa escuridão impedia a visão do céu ao dragão, mantendo ocultos os dois fugitivos.

Cedir, entretanto, iluminou a escuridão com um anel adicional. Este anel emitia uma labareda constante, proporcionando uma luz intensa que rompia as trevas ao redor deles. A escuridão e a luz formavam um contraste marcante, criando um cenário surreal naquele novo e intrigante ambiente.

À medida que a luz do anel do velho revelava mais detalhes do novo ambiente, Harley começou a notar pequenos sinais de vida inusitada. Criaturas subterrâneas, pequenos animais adaptados à escuridão, moviam-se nas sombras formadas pelas torções das formações minerais. Seus olhos brilhavam em tons sutis, revelando uma bioluminescência que contribuía para a estranheza do cenário.

Enquanto observava o ambiente, o jovem voltou sua atenção para Cedir. Detalhes antes despercebidos começaram a surgir. Quatro anéis brancos adornavam seus dedos, uma pulseira branca ornava seu pulso, e um grande medalhão parecia escondido por entre suas vestes, próximo ao peito. Até mesmo o calçado do mago tinha um ar de artefato, sugerindo uma incrível coleção de itens mágicos.

A mente de Harley começou a girar com perguntas. Como alguém poderia reunir tantos artefatos? E mais intrigante ainda, cada item parecia único. Seria possível que cada um concedesse um poder diferente? Essa revelação explicava a agilidade fora do comum do velho mago, desencadeando uma nova onda de curiosidade sobre os mistérios que rodeavam seu improvável mentor.

Cedir percebeu o olhar curioso de Harley sobre os artefatos e, com um sorriso enigmático, confirmou suas suspeitas.

— Esses, meu jovem, são os Sopros de Dragões — anunciou o velho, dando um nome peculiar aos artefatos.

Intrigado, Harley escutou atentamente enquanto Cedir explicava a natureza única desses objetos mágicos. O velho mago descreveu os dragões como seres malignos com poderes inimagináveis, revelando que os ossos dessas criaturas eram utilizados como canalizadores de seus formidáveis poderes.

— Existem duas teorias sobre a origem desse poder. Alguns acreditam que ele emana dos ossos dos dragões, enquanto outros sustentam a ideia de que é uma força cultivada ao longo de milênios, acumulada no interior dos ossos — elucidou, lançando um olhar perspicaz na direção de Harley.

Ao mencionar o uso dos artefatos, Cedir acrescentou uma nota de precaução.

— Cada vez que um Sopro de Dragão é utilizado, seu tamanho diminui gradualmente até desaparecer completamente, levando consigo todo o seu poder. Uma vez que o último suspiro é dado, o artefato desvanece como uma vela consumida pela chama, pronta para desaparecer no éter. Um recurso limitado e precioso, meu caro Harley. Cada utilização requer sabedoria e discernimento.

Cedir, com um sorriso enigmático, dirigiu-se ao jovem com um tom intrigante.

— Onde estaria o seu Sopro de Dragão, meu jovem? Ninguém chega neste mundo sem ter um. Não consigo sentir nenhum poder mágico em você. Você perdeu? Roubaram? — diante da falta de resposta de Harley, o velho mago continuou:

— Não há necessidade de temer. Como Ser Supremo, estou acima dos desejos mesquinhos dos seres inferiores. Como seu mestre, posso orientá-lo e ensinar-lhe coisas novas, mas para isso, preciso que compartilhe tudo o que tem.

A lógica do velho parecia incontestável para o jovem, no entanto, o tempo sempre se mostrava o melhor revelador das verdadeiras intenções de alguém. A prudência falou mais alto, afinal, ser cauteloso nunca fez mal a ninguém e certamente poderia prevenir futuros problemas.

Cedir, com sua vasta experiência acumulada ao longo dos anos, captou nos microssegundos a batalha interna que se desenrolava nos pensamentos de Harley. O sábio optou por não insistir, consciente de que pressionar poderia aumentar as defesas do jovem. Em vez disso, prosseguiu com sua explicação:

— Este mundo é um extenso teste de coragem, força e superação. Além dos dragões, cada fragmento deste lugar é concebido para desafiar os visitantes. Cada novo indivíduo que surge aqui geralmente está preparado, mas você parece desconhecer e estar surpreso com tudo até o momento. Ninguém do clã não lhe deu nenhuma orientação?

— Eu vim parar aqui por acaso. Fui lançado neste lugar. E realmente não sei nada sobre este mundo.

— Então você não é o predestinado. Você não é o campeão ou o futuro líder do clã!

— Meu clã não existe mais. E o único candidato remanescente sou eu, nem o destino nem ninguém pode mudar isso.

Cedir, após um breve período de reflexão diante das revelações do jovem, tomou uma decisão.

— Que assim seja — o velho lançou uma adaga branca em direção a Harley — Este artefato estava destinado ao predestinado. Agora, ele é seu, como um dos últimos representantes de um clã extinto. Após o nosso compromisso finalizado, eu não deverei mais nada a seu clã, nossos caminhos se separarão para sempre.

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Olá, eu sou Val Ferri Sant. Ana!

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