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“As habilidades ocultas de uma pessoa são como sementes adormecidas, aguardando o momento certo para expandir nossa percepção e revelar a verdadeira natureza de um guerreiro.”

O Código do Guerreiro Solitário, Verso 68.


O ambiente peculiar testemunhou seu silêncio sendo rompido pelo sussurro dissonante das criaturas misteriosas, ocultas nas sombras. Cada movimento dessas criaturas, envolto na penumbra, obscurecia seus contornos e intenções, transformando-se em enigmas para Harley, que as observava de longe.

Cedir, veterano e perspicaz, não hesitou em acionar um de seus anéis, desencadeando um fluxo de energia mágica que se manifestou em torno dele como um escudo reluzente. O brilho intenso delineava a fronteira entre a segurança proporcionada pelo poder do item denominado de “Sopro de dragão” e a escuridão imprevisível que os cercava.

Harley, desprovido de qualquer proteção, sentia o peso da tensão aumentar a cada segundo. As sombras pareciam ter vida própria, reagindo a algum chamado oculto que escapava à sua compreensão.

Cada passo que ele dava era meticulosamente calculado, como se estivesse se movendo em um ambiente traiçoeiro, onde um movimento errado ou brusco poderia desencadear o ataque das misteriosas criaturas. 

O sobressalto das sombras indicava que, possivelmente, tinham invadido o território das criaturas, despertando sua atenção e aguçando a percepção de que não eram bem-vindos.

O murmúrio estridente das criaturas ocultas na sombra ecoava, alimentando a incerteza que permeava o ambiente. 

— Parece que as criaturas nos descobriram antes do que esperava, aprendiz. Esta é uma excelente oportunidade para testar suas habilidades — afirmou Cedir com uma expressão tranquila, enquanto o escudo protegia cada centímetro do seu corpo.

O jovem, por outro lado, não compartilhava do mesmo entusiasmo. Ao perceber a amplitude dos sons ao seu redor, ele compreendia que o número de criaturas era significativo. Embora um brilho desafiador em seus olhos refletisse uma determinação feroz, ele reconhecia que estava prestes a enfrentar uma batalha além de suas capacidades individuais. 

— Treinar? Testar? Isso é sério? — Harley franziu a testa, irritado com a aparente falta de preocupação de Cedir. — Não estamos lidando com simples adversários. Essas criaturas são mais perigosas do que parecem. Acha mesmo que isso é um momento oportuno para testes?

O velho mago, observando atentamente a aproximação das feras que mais pareciam nuvens negras se entrelaçando com as sombras, respondeu com calma:

— Em tempos de perigo, é quando verdadeiramente conhecemos nossas habilidades e limitações. Aprender a lidar com o desconhecido é crucial. Fique alerta, aprendiz. Eu estarei aqui, observando.

As primeiras criaturas, emergindo das sombras, exibiam uma composição única, assemelhando-se a um ectoplasma sombrio que conferia uma aura etérea. Em suas extremidades, destacavam-se filamentos finos de escuridão, assemelhados a tentáculos, que se entrelaçavam com a obscuridade circundante. 

Esses fios, sem dúvida, desempenhavam um papel fundamental tanto em sua mobilidade como em sua habilidade para se camuflar nas sombras. Seus olhos brilhavam com intensidade, observando atentamente os movimentos dos dois invasores.

A intuição aguçada do jovem alertava-o de que o primeiro ataque estava iminente. A atmosfera eletricamente carregada indicava que as criaturas, até então ocultas, preparavam-se para um ataque coordenado. 

A ideia de Cedir, o velho mago, parecia-lhe conveniente demais, refletindo mais uma vez a abordagem convencional, onde o verdadeiro conhecimento emergia da dor e do desconforto.

Até aquele momento, Harley sempre fora ensinado por meio da pressão, da adversidade e das dificuldades. Era uma técnica eficaz, mas ele começava a questionar se havia outras abordagens igualmente válidas. 

Afinal, é cômodo simplesmente observar as dificuldades e perdas e, posteriormente, emitir algumas observações ou insights. E com esse tipo de ensinamento na dor, em essência, não precisamos de mais ninguém além de nós mesmos para extrair conhecimentos, pensava o jovem.

Enquanto refletia, Harley não baixou a guarda, exibindo suas duas adagas visivelmente. A lâmina branca refletia o brilho das criaturas, enquanto a lâmina escura, assim como o escudo de Cedir, bloqueava qualquer luminescência.

Sem qualquer aviso, as criaturas misteriosas atacaram. As criaturas investiram com agilidade, adaptando-se instantaneamente à mudança na iluminação ambiente com movimentos compensatórios em direção às sombras mais próximas, aproximando-se rapidamente dos dois.

As criaturas buscavam brechas no escudo e na defesa dos invasores de seu território. Harley, ágil e determinado, desviava e contra-atacava, retalhando as sombras que ousavam se aproximar. As adagas se moviam com uma graça mortal, cortando o ar e afastando os pequenos inimigos.

Cedir permanecia imperturbável atrás de seu escudo, focado nas formações minerais do teto do local, de costas para o combate. Cada choque contra sua barreira reforçava a impressão de sua impenetrabilidade. 

Enquanto isso, o jovem, ao observar o descaso do mago, não conseguia ocultar a frustração diante do manifesto desinteresse do velho homem.

— Isto não é um treino, Cedir! — gritou Harley, desviando de um ataque e tentando chamar a atenção do mago — São criaturas reais, com intenções reais! Preciso de sua ajuda. 

O velho mago, mantendo alheio ao desespero do jovem e sem dedicar um novo olhar ao combate, respondeu:

— A verdadeira força vem da compreensão e domínio sobre si mesmo. Essa é uma lição crucial, aprendiz. Aprender a lidar com desafios imprevistos é parte do caminho para se tornar um verdadeiro mestre.

Furioso com a atitude desinteressada do mago, Harley, ciente de que só podia confiar em si mesmo, voltou todo o seu foco para as estranhas criaturas. Desistindo de esperar qualquer ajuda de Cedir, ignorava suas palavras que pareciam vazias, como se fossem retiradas de algum manuscrito mal escrito que ele já havia lido na infância.

Ele continuava desviando, atacando e defendendo-se das criaturas, notando que em cada ataque a parte aparentemente gasosa endurecia, exigindo força e destreza para lidar com cada impacto. 

As entidades assemelhavam-se a uma fusão entre um balão de gás e uma mancha negra, seus ataques passando próximo e se escondendo habilmente em outra sombra após o erro de seu ataque. 

As criaturas ao seu redor assumiam formas híbridas, assemelhando-se a vapores negros brilhantes quando longe das sombras. Uma tensão palpável permeava o ambiente, e Harley, de repente, viu-se cercado cada vez mais por ataques vindos de todas as direções. 

Suas adagas transformaram-se em uma extensão natural de seus braços, cortando o ar enquanto ele atacava e se defendia dos incessantes ataques. O jovem recordou que o primeiro golpe com a adaga branca foi uma revelação. 

Contrariando suas expectativas, a adaga cortou através de tudo, desde pedras inadvertidamente atingidas até as criaturas, que eram perfuradas como balões, estourando em uma dispersão de sombras dissipadas.

Cada golpe não parecia consumir ou diminuir a energia do artefato; no entanto, no íntimo, Harley sentia um grande poder de ataque que poderia ser liberado a qualquer momento, talvez sendo o verdadeiro poder mágico da adaga branca.

Já a adaga preta, por outro lado, continuava como uma simples arma de metal e não tinha o mesmo impacto da outra adaga. Ao acertar as criaturas, ela apenas causava um estrondo, sem sinais de corte ou dano visível. Era como se a adaga preta estivesse em desacordo com as criaturas, incapaz de afetá-las da mesma forma que a adaga branca.

Harley, em meio à batalha, começou a adaptar-se a essa nova dinâmica. Seus movimentos tornaram-se mais fluidos, e ele aprendeu a distinguir quando usar cada adaga. A adaga branca, apesar de sua natureza aparentemente destrutiva, exigia precisão e discernimento, enquanto a adaga preta tornou-se sua escolha para criar distrações e barulho.

Em um estado de concentração único, o jovem mergulhou em um espaço mental onde a urgência do perigo se dissipou. O mundo ao seu redor desacelerou, permitindo que ele aprimorasse suas técnicas com a adaga. 

Cada movimento tornou-se uma dança, uma sincronia perfeita entre mente e lâmina. O perigo iminente se transformou em uma oportunidade para explorar limites, e Harley, envolto em seu foco, desafiou as criaturas misteriosas com uma destreza refinada.

A cada movimento, ele se aproximava da compreensão da verdadeira essência das adagas. Não eram apenas ferramentas físicas, mas manifestações de poder, cada uma respondendo de maneira única ao toque de seu mestre. Cedir, observando atentamente, percebeu a transformação acontecendo diante de seus olhos.

A batalha continuou, com Harley enfrentando as criaturas misteriosas, uma dança entre a luz e a sombra. Ele começou a perceber que não era apenas sobre vencer as criaturas, mas sobre compreender a essência do poder que fluía através das adagas. O aprendizado ocorreu no calor do momento, com cada movimento refletindo uma adaptação às peculiaridades de suas adagas e do ambiente ao seu redor.

Talvez não existia outro método de aprendizado do que a prática no desespero de uma batalha com cada erro cobrando seu custo em forma de corte ou dor, mas independente disso, ele teria aprendido tudo sozinho e não precisaria de orientação ou palavras vazias de outra pessoa para obter seus próprios entendimentos e evolução em sua prática. 

Enquanto isso, Cedir permanecia alheio a tudo e a todos com seu escudo. Parecia estar meditando, mas para o jovem parecia mesmo que ele estava era dormindo. 

Inesperadamente, uma pausa se instaurou nas profundezas do subsolo. Harley, ofegante e com as adagas ainda em mãos, observou atentamente o ambiente ao seu redor, buscando confirmar o real significado do silêncio súbito que se estabeleceu. 

O jovem, observando os montículos de gosma marrom escura que marcavam o fim dos inimigos anteriores, sentiu uma tensão crescente. O aumento dos sons emitidos e o surgimento de pares de olhos na escuridão indicavam que uma legião muito maior das criaturas translúcidas.

O ambiente, antes estático, começou a ganhar vida de maneira surreal. Os minerais que compunham a paisagem retorcida agora se manifestavam como entidades feitas de fragmentos de formações minerais, assumindo as mais variadas formas geométricas e desarmônicas. Essas entidades se moviam de maneira sinuosa, como se a própria rocha estivesse coberta por uma pele viva.

A essa estranheza somava-se o aparecimento de orbes flutuantes elétricas, que brilhavam em tonalidades intensas, criando uma luminosidade intermitente no ambiente escuro. Cada orbe pulsava com uma energia elétrica palpável, adicionando uma camada de complexidade ao cenário já bizarro.

Além disso, do fundo do subsolo surgiram criaturas monstruosas, emergindo de enormes túneis que se formavam com sua movimentação. Estas bestas assemelhavam-se a minhocas supercrescidas, suas bocas ostentando uma sobreposição de arcadas dentárias afiadas, prontas para devorar e triturar qualquer coisa em seu caminho. 

À medida que se arrastavam, deixavam para trás uma gosma corrosiva, um tipo de ácido que contribuía para a criação de novos túneis com cada movimentação.

Diante dessa multiplicidade de ameaças, Harley sentiu uma onda de desconcerto. O subsolo, que antes era apenas uma paisagem peculiar, tornou-se um campo de batalha contra entidades tão diversas quanto perigosas. Cada novo inimigo que surgia parecia trazer consigo um desafio ainda maior, transformando a luta que já era intensa em algo quase insuperável. 

Os olhos dele percorriam o cenário, agora repleto de monstros, minhocas gigantes e orbes flutuantes elétricas, enquanto ele tentava encontrar uma brecha, um ponto de escape que não existia.

A multiplicação exponencial das criaturas tornava qualquer estratégia de defesa ineficaz. Não havia espaço para recuar, e cada movimento que Harley tentava fazer era seguido de perto por olhos famintos e presenças sombrias. O jovem guerreiro percebeu que a fuga era impossível, cercado por todos os lados por inimigos sedentos por sua presa.

Harley voltou os olhos para o velho mago, que flutuava próximo ao teto. Diferentemente de antes, agora ele parecia completamente acordado, com os olhos arregalados e atentos. 

Antes que ele pudesse articular qualquer pedido de ajuda ou buscar uma sugestão sobre como enfrentar o enorme contingente de criaturas, a respiração do jovem tornou-se mais acelerada, refletindo a dura realidade de que a situação estava rapidamente fugindo do controle.

O desespero começou a se instalar quando ficou claro que Cedir, seu mentor, optou pela fuga. O mago, ágil como uma bala disparada em alta velocidade, escapou sem sequer lançar um último olhar na direção de Harley, deixando-o entregue à própria sorte. 

A sensação de abandono e agravamento da situação levaram o jovem a questionar não apenas o desfecho da batalha iminente, mas também a dinâmica de sua relação com o velho mago. As sombras densas pareciam sussurrar as incertezas que pairavam no ar, obscurecendo ainda mais o caminho à frente.

A multiplicidade de olhos fixos nele, brilhando na escuridão, era um lembrete constante de que ele estava sozinho diante dessa terrível ameaça. O subsolo, que outrora foi uma terra de descobertas e desafios, agora se tornara seu próprio labirinto de tormento.

O desfecho dessa batalha iminente estava além de seu controle, e Harley sentiu a força inexorável da derrota se aproximando.

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Olá, eu sou Val Ferri Sant. Ana!

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